terça-feira, 28 de abril de 2015

Diante de um problema seja um otimista realista

"Seja o problema que for, a maneira como o vemos influenciará fortemente o modo de lidar com ele" 


Todos temos ou já tivemos preocupações. Estar vivo nos leva a enfrentar diariamente diferentes tipos de problemas: alguns mais simples, os quais geralmente resolvemos tranquilamente e outros mais complexos com os quais podemos nos enroscar e nos causar sofrimento.

No entanto, independente do tamanho ou complexidade do problema, na essência eles são todos iguais: algo que nos incomoda ou que não está como gostaríamos. Assim, precisamos encontrar uma maneira de modificar o status quo de modo que fiquemos mais em paz. Sendo assim, a resolução de um problema envolve uma ação no ambiente e/ou uma mudança de percepção.

Há problemas que serão resolvidos com um comportamento. Exemplo: se você chegar em casa e não tiver algo para comer pode ir ao mercado ou pedir comida.

Há outros problemas que dependerão mais de sua mudança de percepção. Exemplo: meu marido chegou do trabalho e me disse algo que me chateou. Posso buscar compreender que ele estava cansado e irritado e que não mediu suas palavras ao falar consigo e perdoá-lo.

Já, há outros problemas que envolvem tanto uma mobilização cognitiva quanto comportamental. Exemplo: moro com meu marido e estamos sem faxineira. Brigamos pois, a casa está suja e bagunçada e um joga sobre o outro a culpa pela situação. Uma solução é cada um admitir que tem sua responsabilidade pela sujeira e bagunça e criar uma escala com divisão de tarefas e grudar na geladeira para controle de ambos.

Percepção do problema

Seja o problema que for, a maneira como o vemos influenciará fortemente o modo de lidar com ele.

Se nos é comum catastrofizar e visualizar um cenário negativo à frente ou ainda que não conseguiremos lidar com ele, estamos com uma visão pessimista, a qual nos trará muita "pré-ocupação" e consequentemente ansiedade. Tal atitude pode nos paralizar diante do que imaginamos ou ainda ficar atarantados e correr de um lado para outro como baratas tontas tomando decisões impulsivas.

Outra possibilidade é criar cenários por demais positivos, buscando ser otimistas, mas sem levar em conta os dados de realidade. Visões pollyanas também não são eficientes uma vez que mascaram a situação e nos impedem de entrar em ação de forma eficaz.

Por outro lado, se adotarmos o que na TCC chamamos de "otimismo realista", que é visualizar a situação exatamente como se apresenta a você (observando os dados de realidade) e, diante disso, projetar bons desenrolares diante de suas decisões e ações; então isso lhe trará tranquilidade e motivação diante desse problema a ser resolvido.

Predisposição e resultado

Nossa predisposição (como nos dispomos) diante do problema pode definir o resultado. Se já nos colocamos de modo pessimista ou até otimista ao extremo, teremos uma visão distorcida do contexto, o que influenciará nosso comportamento.

Como para resolver qualquer problema precisamos tomar uma atitude (mesmo que seja uma mudança interna, de como percebemos a situação), precisamos então, necessariamente, de uma boa perspectiva para agirmos com eficácia. Nos perdermos em preocupações ou devaneios negativos ou positivos não gerará resultado concreto algum. Dessa maneira o que precisamos é criar a boa base (percebermos a situação de modo realista, mas também com uma projeção positiva) e entrar em ação (ter comportamentos que gerem ou que possam gerar bons resultados).



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quarta-feira, 22 de abril de 2015

Amor é construção, diferente da paixão que não exige nada de nós

"Casais que se amam, se esforçam por agradar o outro..." 

Não é o amor que sustenta o relacionamento. É o modo de se relacionar que sustenta o amor.

Pergunte às pessoas que você conhece... a grande maioria dirá que tem como desejo, em algum momento da vida, encontrar seu grande amor para poder viver o felizes-para-sempre.

Muitos idealizam o amor e o veem como o grande responsável pelos relacionamentos de sucesso. Isso não é um engano. No que as pessoas se enganam, é acharem que o amor mantém o relacionamento e não a maneira de se relacionar que mantém o amor.
Amor é construção, é diferente da paixão a qual não exige nada de nós, somente acontece, sem precisamos fazer nada para isso. Para o amor florescer é preciso ter empenho; é preciso se esforçar e trabalhar para então gerar esse sentimento.
Os relacionamentos podem durar (e duram) um determinado período enquanto as pessoas estão apaixonadas. Cajo não haja alguns cuidados, certamente o relacionamento falhará tão logo a paixão se esvaneça.

Então o que faz uma relação durar?

Amar exige esforço e construção
- Ter a intenção e a postura de cuidar desse relacionamento e da outra pessoa envolvida;
- Casais que se amam, se esforçam em agradar o outro, em fazer coisas que deixem o outro feliz;

- Auxiliam o outro em momentos de maior dificuldade;

- Esforçam-se para resolver brigas e discussões quando essas acontecem e procuram perdoar;

- Esforçam-se em ser carinhosos mesmo quando estão cansados;

- Esforçam-se para ter comportamentos gentis e de cuidado - voluntário e consciente.

É isso tudo que mantém os relacionamentos. É isso que mantém o amor.
Amor não é causa, é consequência!

Reflita sobre isso e aplique em seu relacionamento amoroso.

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quarta-feira, 15 de abril de 2015

Terapia Focada na Compaixão e os três sistemas evolutivos de regulação do afeto

Por Maikon de Sousa Michels
Confesso que fiquei um tanto quanto receoso quando ouvi falar pela primeira vez da Terapia Focada na Compaixão, um modelo que faz parte da “Terceira Onda” dentro das Terapias Cognitivas. Bastou a leitura de um único capítulo, no entanto, para que o preconceito fosse embora e em seu lugar surgisse a vontade de continuar estudando.
Terapia Focada na Compaixão é um modelo que integra vários conceitos oriundos da Psicologia Evolucionista e, ao invés de mostrar ao paciente a disfuncionalidade do seu pensamento, busca ajudá-lo a compreender onde e de que maneira o indivíduo se fixou em formas inúteis, ainda que compreensivas, de tentar aumentar o seu sentimento de segurança perante as ameaças.
Sinceramente, o que mais me chamou atenção foram os conceitos oriundos da Psicologia Evolucionista, atualmente umas das abordagens psicológicas que mais fazem sentido, pelo menos no meu entendimento. Entre esses conceitos, os sistemas de regulação do afeto são bem interessantes, fáceis de usar como psicoeducação e ajudam a explicar a origem de vários problemas psicológicos.
O primeiro sistema de regulação do afeto é o sistema de defesa-ameaça, onde a mensagem subjacente é “Proteja-se”. É um sistema compartilhado por todas as espécies animais e que serve para nos proteger de um perigo real ou imaginado.
O sistema de defesa-ameaça detecta diferentes tipos de ameaças rapidamente e logo em seguida processa a informação e escolhe uma reação emocional (raiva, medo, ansiedade, nojo/aversão) e uma resposta comportamental adequada (imobilização, luta, fuga, submissão).
É um sistema essencial, pois é ele que nos faz detectar perigos e garantir nossa sobrevivência. Por outro lado, quando uma pessoa funciona nesse sistema a maior parte do tempo, pode se tornar hipervigilante e pouco disponível para outros tipos de atividades, o que pode estar na gênese de problemas psicológicos. Diversos tipos de patologia estão associados a uma ativação excessiva do sistema defesa-ameaça, como comportamentos de evitação, comportamento agressivo e antissocial ou transtornos de ansiedade.
O segundo sistema é chamado Procura de recursos e de recompensas (drive) é foi concebido para propiciar uma sensação de bem-estar, para criar sentimentos positivos que orientem, motivem e encorajem para a procura de recursos e recompensas vantajosas. Comida, sexo, relações de amizade, status e reconhecimento são importantes para que o indivíduo sinta alegria, vitalidade e prazer.
Atividades prazerosas são essenciais para a sobrevivência; ativam mecanismos cerebrais de recompensa, promovendo flexibilidade e satisfação de necessidades biológicas (comida, sexo, reprodução) e relações compensadoras. Quando esse sistema está ativado, todos os aspectos da mente ficam focados nos objetivos até que se consiga alcançá-los.
Mantendo esse sistema equilibrado com os outros, obtemos claras vantagens em direção a importantes objetivos de vida. No entanto, desequilíbrio ou disfunção nesse sistema pode estar por trás de transtornos de humor (mania no transtorno bipolar), uso de substâncias ou busca por esportes radicais muito perigosos.
Além disso, se um indivíduo falha em alcançar um objetivo ou está tentando constantemente impressionar os outros, isso poderá levar à ativação simultânea do sistema de defesa-ameaça. Quando esses dois sistemas estão ativados ao mesmo tempo, isto leva à ansiedade, à frustração e até a raiva, fazendo com que indivíduos se envolvam mais facilmente em comportamentos agressivos.
Por fim, temos o sistema de afiliação, de calor e afeto. Esse sistema está associado à vinculação e tem como função tranqüilizar e acalmar o indivíduo, quando este não está focado em ameaças ou na procura de recursos. É diferente do entusiasmo ou da ausência de ameaça, pois, quando esse sistema se encontra ativado, o indivíduo se sente bem, seguro e ligado aos outros.
Além disso, enquanto nos sistemas anteriores os relacionamentos interpessoais são secundários à proteção e à aquisição de bens e recursos, o sistema de afiliação, calor e afeto implica a experiência de estar seguro, tranqüilo, no momento presente. Relações interpessoais calorosas, baseadas na partilha e no afeto, são centrais para o desenvolvimento e maturação desse sistema.
Desde o seu nascimento, o ser humano necessita de cuidados parentais, sendo o estabelecimento de vínculos sociais um requisito essencial para a sobrevivência. A procura de calor e afeto e a proximidade com uma figura de vinculação segura constitui uma estratégia inata para a regulação do afeto.
Uma criança que tem uma vinculação segura, que foi tranqüilizada e amada, pode facilmente evocar essas memórias emocionais em situações de stress, o que vai ajudá-la, ao longo da vida, a regular o afeto através de um mecanismo de autotranquilização.
Por outro lado, uma criança com vinculação insegura, mais facilmente desenvolve um sistema defesa-ameaça hipersensível e hiperreativo e um sistema de afiliação subdesenvolvido. Estão mais propensas a psicopatologias e tem maior tendência a perceber o outro como fonte de ameaça (possibilidade do outro me controlar, magoar ou rejeitar) e facilmente se tornam muito focadas no alcance de status, estando, portanto, menos propensas a desenvolverem comportamentos de prestação de cuidados com o self e com os outros.
Particularmente, acredito que esses sistemas de regulação do afeto estão amplamente relacionados, de forma congruente, no sentido epistemológico, com a Terapia do Esquema, outra abordagem da chamada Terceira Onda das TCCs. Os três sistemas ajudam a explicar, pelo menos em parte, a origem de vários esquemas iniciais desadaptativos, como esquema de  Abandono, Desconfiança/Abuso, Vulnerabilidade ao Dano/Doença, Busca de Aprovação/Reconhecimento e Arrogo/Grandiosidade, só para citar alguns.
O objetivo último da Terapia Focada na Compaixão é o de equilibrar a atuação dos sistemas de regulação do afeto, promovendo a ativação do sistema de afiliação, de calor e afeto. Ao estimular esse sistema, procura-se desenvolver competências de autotranquilização, de autocompaixão e de ligação/prestação de cuidados aos outros, diminuindo assim sentimentos como vergonha e autocriticismo.
Frente à complexidade do ser humano, novas abordagens psicoterápicas são sempre bem vindas para nos ajudar a entender e aliviar o sofrimento dos pacientes, desde que com bases científicas e epistemologicamente congruentes com as terapias cognitivas tradicionais.

Fonte: A maioria das informações desse manuscrito foram literalmente transcritas do capítulo “Terapia Focada na Compaixão” (Rijo, Motta, Silva, Brazão, Paulo e Gilbert) do livro “Estratégias psicoterápicas e a terceira onda em terapia cognitiva”. Wilson Vieira Melo (organizador) Artmed, 2014.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O que busca a geração Y?

"... essa geração possui a percepção de que fazer algo que lhes traga significado tem muito mais importância do que ganhar mais ou acumular dinheiro"

Alguns dos valores pessoais vêm mudando com o tempo. De modo geral, o que as pessoas estão buscando na vida está diferente de antes. Desse modo a relação com o trabalho e a motivação com o mesmo também se tornam diferentes.

Há uns 40 anos atrás (ou até menos) o que um jovem buscava ao entrar no mercado de trabalho era estabilidade financeira em seu emprego. Tinham o sonho de construir ou comprar sua própria casa e constituir família. Essas eram as metas mais comuns procuradas por esse público nessa época. Atualmente, os jovens na casa dos vinte e poucos anos mudaram o perfil do que desejam.

Seu discurso é muito mais por fazerem algo que lhes tenha sentido e a maioria gosta e busca desafios. A questão financeira já não os segura mais em um emprego e a estabilidade financeira e de carreira já não é mais vista como algo fundamental.

Essa é a famosa geração Y que vem como uma mentalidade bastante diferente, desafiando muitos paradigmas que foram criados anteriormente.
Os atuais líderes contam de seu sofrimento em manter seu pessoal motivado e, por sua vez, esses jovens sofrem por saberem que precisam sobreviver e se sustentar mas, que só conseguem realmente se comprometer profissionalmente quando encontram algo que lhes brilhe os olhos e lhes tenha sentido.
A qualidade de vida e bem-estar passou a ser algo mais importante do que a estabilidade e segurança e, isso esses pontos definem muitas escolhas feitas por essas diferentes gerações. Não há certo ou errado mas, há claramente um conflito de percepções.
Atendo inúmeros adultos jovens com bons empregos mas... se questionando e sofrendo por acharem que está faltando algo ou que aquilo que fazem não preenche suas vidas ou ainda que não tem um sentido. Esse é um sofrimento real pois, para eles, a realização profissional não é medida pela sua conta bancária mas sim pelo seu grau de satisfação com a atividade que exercem. Outro ponto de sofrimento é a relação com os pais, os quais estão pautados em outros valores e que criticam a atitude dos filhos de abrir mão da segurança que tem para tirar um ano sabático ou viajar para o exterior para morar algum tempo ou ainda ir trabalhar em uma ONG ainda em crescimento.

No entanto esse é o chamado que esses jovens sentem na sua essência e, negá-lo, certamente é ficar infeliz.

É necessário aceitar que essa geração possui a percepção de que fazer algo que lhes traga significado tem muito mais importância do que ganhar mais ou acumular dinheiro. Vem claramente com a sensação de que precisam mais ser do que ter. Talvez, como uma resposta ao consumismo exacerbado em que acabamos chegando, até como uma consequência para preenchermos alguns vazios. Quanto mais uma pessoa se aliena de si mesma e faz as coisas por que precisa fazer, mais vazia elas se sentirá. E se lhe for dito que para preencher esse vazio e frustrações ela terá de trabalhar muito, pois precisa comprar isso ou aquilo, ela com certeza irá fazê-lo na tentativa de aliviar seu mau-estar e poder se preencher, mesmo que isso implique em falta de tempo para viver a vida.

Temos dois "times" de trabalhadores atualmente: os que trabalham muito e buscam estabilidade e segurança e os que questionam todo o sistema de trabalho atual, querem trabalhar menos e ver sentido no que fazem. Ambos sofrem mas possivelmente uma geração tem a aprender com a outra e até mesmo se ajudarem em busca de uma melhor solução para ambas as partes.


Leia este texto também em Via Estelar.