quarta-feira, 26 de março de 2014

Viver novas experiências nos aproxima da realidade

"Permita-se vivenciar o diferente..."

Em TCC (terapia cognitivo-comportamental) trabalha-se muito com a parte cognitiva, ou seja, em identificar os pensamentos e crenças negativos e desafiá-los.

Esse desafio se dá tanto por um questionamento levando a novas maneiras de perceber o contexto, quanto também, por testar novos comportamentos em situações nas quais há uma previsão negativa e, diante disso, fazer avaliações e constatações do resultado.

Desse modo, é muito importante que independente de estar ou não em processo terapêutico, se tenha o hábito de experienciar.

- Quantas vezes pensamos algo negativo e isso nos impede de fazer algo que gostaríamos?

- Será que se fôssemos testar a validade desse pensamento através de termos o comportamento desejado ou ainda algum outro comportamento diferente do nosso padrão, não poderíamos nos surpreender com o que ocorreria?

- Inúmeras vezes constato que sim!

Mas, isso é importante de ser verificado pela própria experiência de cada um.

Outro ponto importante adquirido através do ato de experimentar novas possibilidades de agir... é o de aprimorar os próprios comportamentos.

Quando nunca fizemos algo, não temos noção alguma (ou talvez somente pela observação alheia) de como fazer isso, da medida de energia que deve ser empregada etc. A partir do momento em que nós mesmos fazemos algo, mesmo que erremos (e, muitas vezes isso acontecerá quando fizermos alguma coisa pela primeira vez), passamos então a ter algum parâmetro para numa próxima vez o utilizarmos como base para a construção do comportamento que será adotado.

Um exemplo bastante prático e fácil de visualizar é: se você nunca arremessou uma bola de basquete na cesta, muito provavelmente terá dificuldades. Você até pode ter uma grande sorte de principiante e acertar logo de cara o primeiro arremesso mas, com muita probabilidade não acertará no segundo, simplesmente por ter sido sorte e não um comportamento programado com base em um aprendizado que você teve.

Por outro lado, se começa a arremessar com consciência da distância que está, da força que está empregando, do ângulo que está lançando... vai aos poucos se autorregulando e, após algumas tentativas e treino, sua mira estará muito melhor por conta de você ter aprendido com sua experimentação. Assim é com a vida e com os comportamentos que podemos adotar diante das situações que nos aparecerem.

Permita-se vivenciar o diferente, isso te tira da zona de conforto, o que traz temores, mas, além de lhe trazer novas possibilidades e resultados, isso também permite viver mais o mundo da realidade e não só o que você cria em sua mente. Teste isso!

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terça-feira, 18 de março de 2014

A atitude de alguém mexeu com você? Saiba como superar

"O outro pode ser um espelho de nosso desconforto emocional"


Quantas vezes nos chateamos com as atitudes das outras pessoas?

Quantas vezes nos sentimos agredidos ou não levados em conta em função da forma de agir dos outros?
Você já se percebeu assim alguma vez em sua vida?

Se sim, te convido a uma reflexão sobre esse assunto.



Muitos de nós, em inúmeros momentos, ficamos chateados por conta de comportamentos que alguém teve conosco. Pode ser um familiar, um amigo, um vizinho ou até um total desconhecido. Fato é que, sob nossa percepção, aquele modo da pessoa conduzir a situação nós é bastante desconfortável, a ponto de ficamos mexidos emocionalmente.

Não temos controle sobre o comportamento dos outros. O que podemos fazer como um experimento, é sermos assertivos dizendo à pessoa que nos feriu o que aquela ação provoca em nós e, consequentemente, como nos sentimos.

Ser assertivo é muito mais eficaz do que ser passivo ou agressivo (veja aqui). No entanto, apesar de aumentar as chances, ainda assim não podemos determinar uma mudança na atitude da outra pessoa. Por isso, não deve-se basear sua assertividade no resultado que ela terá sobre o outro, mas sim, sobre como isso é uma boa maneira de você se expressar e não reter suas emoções (as quais podem ser somatizadas e causar inúmeros problemas de saúde).

O outro pode ser um espelho de nosso desconforto emocional

Fora a assertividade, há um outro ponto que gostaria de focar quando nos sentimos desconfortáveis frente aos comportamentos de outras pessoas. Podemos utilizar os outros como espelhos para nós, questionando tanto se temos atitudes parecidas ou ainda se fizemos algo que pudesse influenciar na ação desses.

É fácil apontar o dedo, criticar e/ou se desapontar quando alguém nos faz algo. Mas é difícil perguntarmos se em algum momento fizemos algo parecido com isso que nos incomoda.
Justamente esse comportamento percebido no outro, que nos causa tanto desconforto, não é por dizer algo a nosso respeito, ou será que nós mesmos não fazemos algo semelhante em outro contexto ou com outra pessoa?

Com essa reflexão podemos transformar um mal-estar em um aprendizado para nós, saindo da posição de vítima e passando para um papel ativo de agente de mudança.

Quantas vezes será que também magoamos, maltratamos, desrespeitamos outras pessoas? E... quantas vezes fazemos isso sem nem termos consciência do que estamos fazendo. Se nos sentimos destratados por que o outro também não se sentiria assim?

Se quisermos ser respeitados devemos respeitar os outros. Se quisermos que sejam gentis conosco, também devemos ser gentis. Se não queremos que levantem a voz conosco, falemos em voz baixa. Como o próprio ditado popular demonstra: devemos dar o exemplo e não somente falar ou criticar. Por isso mais do que você fala, perceba o que você faz.

Assumamos uma postura mais ética, cuidadosa, polida e amorosa e percebamos o resultado que ela tem no ambiente à nossa volta. Finalizo essa reflexão com uma belíssima frase de Gandhi, que justamente demonstra a ideia central desse texto: "Sejamos a mudança que queremos ver no mundo."


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Frente às incertezas da vida, modificar-se, é um grande passo




Muitas pessoas procuram psicoterapia com o intuito de serem mais equilibradas. Trazem queixas de que não sabem lidar com determinadas situações, que acabam ficando muito ansiosas ou controladoras, ou ainda que explodem ou irrompem em lágrimas.

Todas essas são respostas comportamentais sobre como se sentem nesses contextos e, portanto, consequências de como elas percebem esses momentos.

SUBESTIMAR/SUPERESTIMAR: diante de uma situação difícil, é preciso dosar o quanto se pode agir

Todos nós passamos com alguma frequência por situações difíceis, estressantes ou ainda com resultados incertos mas, nem por isso, precisamos necessariamente ter comportamentos extremos; tudo dependerá de como nos colocamos diante dessa situações. Precisamos dosar o quanto podemos ou não agir diante de cada contexto, nem superestimando a nós mesmos e nem subestimando.

É fácil ver o sofrimento que há quando queremos controlar demais as coisas, buscando determinar como os outros se comportarão, desejando prever os resultados futuros, demonstrando uma grande dificuldade em lidar com a incerteza.

Incerteza sempre haverá e aí faz parte conseguirmos nos manter centrados, equilibrados e aceitarmos que ela esteja presente em algum aspecto de nossa vida. Assim em diversas vezes não poderemos fazer nada ou muito pouco para garantir resultados. Desse modo, aceitar nossos limites e não querer controlar o incontrolável (ansiando predizer respostas) é um grande treino adaptativo para manter-se mais sereno.

Por outro lado, não podemos também nos isentar de nossas responsabilidades e, consequentemente, do poder que temos nas mãos diante de inúmeras situações em que podemos mudar ou construir desfechos.

Ponto de equilíbrio saudável

Se acreditarmos que não podemos fazer nada e, que a decisão é sempre dos outros ou que as situações terão com certeza esse ou aquele final, então ficamos totalmente ausentes da capacidade de transformação e de atuação sobre o mundo. Precisamos nos empoderar, tomando as rédeas de nossas vidas em nossas mãos e percebendo o que podemos fazer diante de cada situação que nos apresenta, já que no mínimo, poderemos pelo menos trabalhar em modificar nossa maneira de enxergar os eventos; o que já fará bastante diferença para nós.

Para ter mais tranquilidade nas emoções
Dessa maneira o segredo para termos mais tranquilidade e equilíbrio nas emoções e, principalmente na maneira como lidamos com elas e as externalizamos, é não ir para os extremos no sentido de superestimarmos nosso poder de controle sobre as outras pessoas e situações, aprendendo a lidar com as incertezas; bem como também não nos enfraquecermos diante dos eventos nos quais nossas atitudes podem influenciar e até determinar os resultados. Sendo assim, equilíbrio gera equilíbrio.

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domingo, 16 de março de 2014

Escrever cartões de enfrentamento ajuda a manter foco nos objetivos

"Outro ponto importante que pode auxiliar a não se desviar do caminho é o de aprender com as experiências e os erros"

Inúmeras vezes no início do ano as pessoas se propõe a conquistar diversas metas, modificar comportamentos, não repetir os mesmos erros... Esses objetivos são louváveis e devem mesmo ser programados.

No entanto, será que após o início do ano essas metas permanecem em pauta ou já foram engavetadas?

Creio que o trabalho mais difícil seja manter-se focado e alinhado no que se propôs a fazer.

Há inúmeras coisas que podem nos distrair: compromissos do dia a dia, situações de conflito, dificuldades para realizar algo que se planejou executar etc.

Cartões de enfretamento: lembretes impulsionadores

A melhor maneira de não nos perderemos é ter claro as razões pelas quais queremos fazer as mudanças ou conquistar algo e inclusive, se possível, escrevê-las e mantê-las consigo. Isso ajuda a ter mais força e motivação frente às situações que poderiam nos fazer sucumbir. Essa estratégia é utilizada dentro da TCC (terapia cognitivo-comportamental) e pedimos aos pacientes que escrevam cada razão de querer fazer algo em um pequeno cartão (ou mais cartões) e, sempre que tiver de enfrentar algo ligado àquela situação, lê-lo, tendo assim mais impulso para enfrentar o que virá. Desse modo chamamos esses lembretes impulsionadores de cartões de enfrentamento.

Aprenda com experiências e erros: mude a estratégia

Outro ponto importante que pode auxiliar a não se desviar do caminho é o de aprender com as experiências e os erros. Todos temos histórico de termos tentado algo e não ter dado certo. Esse é um importante material para autoconhecimento e também para nos auxiliar nos próximos passos em direção àquilo que queremos. A partir dos erros e experiências que tivemos, podemos ir ganhando mais e mais consciência e ajustando nossa mira em direção ao que desejamos. É como se praticássemos diversas vezes arremessar uma bola de basquete ao cesto e a cada arremesso vamos tendo mais noção da força que devemos utilizar, da distância a nos colocar, do ângulo que deve ser jogada etc.

Sem as tentativas anteriores, seria muito difícil acertar logo no primeiro arremesso, a bola no cesto e, mesmo que o fizéssemos, seria por sorte e não por que nos apropriamos da técnica, o que muito provavelmente não nos faria acertar da segunda vez. Desse modo, devemos aprimorar nossa percepção a respeito dos erros e vê-los como base necessária para o acerto, para o sucesso de nossos planos. Errar como fruto de uma tentativa é a mostra de que se está testando um jeito diferente de se fazer algo e por isso não se está parado. Se nos utilizarmos desse nosso histórico para não repetir os mesmos passos e, baseado nele, caminharmos em direção ao que ambicionamos, cada vez mais nos aproximaremos de nossos objetivos.

Aproveite essa época do ano ainda envolta em planos de renovações e conquistas e teste essas dicas praticando o que foi descrito.


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Responsabilidade e liberdade caminham juntas

"Muitos entram em 'coitadismos' e vitimizações ao invés de realmente tomar as rédeas da sua vida nas mãos e assumir a direção para a qual ela está indo"

Responsabilizar-se é responder por aquilo que se escolhe, que se faz. Quem não é responsável não se compromete com suas decisões, faz qualquer coisa no presente, independente das consequências futuras; fala uma coisa e faz outra, porque não avalia com acuidade suas palavras e/ou ações.

Responsabilidade depende muito mais de maturidade do que de idade. Ela tem a ver com o quanto o indivíduo se apropria dos resultados que alcança frente às ações que tem no mundo.

Essa atitude pode ocorrer em qualquer idade, contanto que a pessoa seja estimulada a ter essa percepção de causa e efeito.

Quem é responsável zela tanto pela sua própria vida, como pela das pessoas à sua volta. Ou seja, tem respeito por seus próprios compromissos e obrigações, mas também cuida em avisar ao próximo de alterações em combinados já estabelecidos, de atrasos etc. Em outras palavras somente quem se responsabiliza por si mesmo, pode ter a habilidade de perceber o outro como um todo e também suas necessidades.

Carecemos de pessoas mais responsáveis no mundo, temos muita gente se culpando e pouca gente realmente se responsabilizando.

Muitos entram em "coitadismos" e vitimizações ao invés de realmente tomar as rédeas de sua vida nas mãos e assumir a direção para a qual ela está indo.

Percebo inúmeras pessoas com medo de se responsabilizarem, como se isso as isentasse das consequências de suas ações no mundo. Não avaliar as consequências de seus atos, não se comprometer com os resultados de suas ações não modifica os efeitos do que é feito, só cria a ilusão de que não é necessário lidar com isso ou de que não é preciso olhar para isso agora.

Um ótimo exemplo é de alguém que faz compras no cartão de crédito e nunca olha o saldo no banco. Essa atitude pode trazer a percepção de maior leveza e liberdade, mas a realidade não é alterada somente por que não se opta em não olhar para ela. O problema continua lá, ou justamente o problema é criado pela pessoa por não se apropriar do planejamento de sua ação no mundo.

Olhando por esse ângulo, responsabilidade e liberdade caminham juntas; quanto mais eu me responsabilizo por minhas decisões e comportamentos, tanto mais sou livre para fazer o que eu escolher no mundo, porque já optei por arcar com as consequências disso. Já quando não me aproprio de minhas ações e de seus resultados, crio uma ilusão de liberdade momentaneamente, mas que em algum momento terei de pagar essa conta sem ter me planejado para isso.

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