quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Com Medo de Ser Feliz

O encontro amoroso pleno é o sonho da maioria das pessoas que tenho conhecido. E como são poucas as que chegam lá! Será por coincidência? Seriam as dificuldades externas – obstáculos de todo tipo – que impediriam a realização do amor?
 
Não acredito em nada disso. Penso que existe um “fator antiamor” presente em nossa mente.
 
Trata-se do medo, que é derivado de várias fontes. A mais óbvia delas é a relacionada com a dependência. Sim, porque é absolutamente impossível amar sem depender, sem ficar na mão do ser amado. Se ele fizer mau uso disso, acabará nos impondo grande sofrimento e dor.
É por isso que muitas pessoas preferem renunciar à entrega amorosa. Preferem ser amadas em vez de amar. Pode parecer esperteza, mas na realidade é covardia.
 
Além da dependência, há vários medos relacionados à experiência do amor. Vou me dedicar a mais um, talvez mais importante que os outros. É o medo da felicidade.
 
Nada faz uma pessoa tão feliz quanto a realização amorosa. Quando estamos ao lado do amado, a sensação é de plenitude, de paz. O tempo poderia parar naquele ponto, pois todos os nossos desejos teriam sido satisfeitos.
 
No entanto, logo depois da euforia surge a inquietação, acompanhada de um nervosismo vago e indefinido. Parece que alguma desgraça está a caminho, aproximando-se a passos largos. Temos a impressão de que é impossível preservar tamanha felicidade. Não adianta nem mesmo seguir os rituais supersticiosos: bater na madeira, fazer figa… Aliás, tais atitudes derivam justamente da incredulidade que nos domina quando as coisas vão bem demais em qualquer setor da vida.
 
Deixando de lado as importantes questões teóricas relacionadas à existência desse temor, podemos dizer que o medo da felicidade tem como base o receio de sua futura perda. Quanto mais contentes e realizados nos sentimos, tanto mais provável nos parece o fim desse “estado de graça”.
 
Segundo um estranho raciocínio, as chances de ocorrerem coisas dolorosas e frustrantes aumentam muito quando estamos felizes. O perigo cresce proporcionalmente à alegria. Dessa forma, à sensação de plenitude vai se acoplando o pânico.
 
Então o que fazemos? Afastamo-nos deliberadamente da felicidade. Cometemos bobagens de todo tipo: arrumamos um modo de magoar a pessoa amada, de inventar problemas que não existem ou exageramos a importância dos pequenos obstáculos.
 
Escolhemos parceiros inadequados, prejudicando às vezes outras áreas importantes da vida: saúde, trabalho, finanças. Para reduzir os riscos de uma hipotética tragédia, procuramos um jeito de apagar nossa alegria. Enfim, criamos uma dor menor com o objetivo de nos proteger de uma suposta dor maior.
 
O medo de perder o que se alcançou existe em todos nós. Porém, gostaria de registrar com ênfase que a felicidade não aumenta nem diminui a chance de fatos negativos acontecerem. Trata-se apenas de um processo emocional muito forte, mas que não corresponde à verdade. Felicidade não atrai tragédias! É só uma impressão psíquica.
 
O que fazer para nos livrarmos dessa vertigem simbólica que torna a queda inevitável? Como sair do impasse e ter forças para enfrentar o amor?
 
Só há uma saída, já que não se conhece a “cura” do medo da felicidade. É preciso diminuir o medo da dor. Assim, ganharemos coragem para lidar com situações que geram alegria e prazer.
Perder o receio de sofrer é necessário até porque a felicidade poderá de fato acabar. Não tem cabimento, porém, deixar de experimentá-la, pensando apenas nessa eventualidade.
 
Todo indivíduo que andar a cavalo estará sujeito a cair. Só terá certeza de evitar acidentes quem nunca montou. Isso, repito, é covardia e não esperteza.
 
Reconhecer em si forças suficientes para suportar a queda e ter energias para se reerguer mostra coragem e serenidade. Uma pessoa é forte quando sabe vencer a dor.
 
Trata-se de um requisito básico para o sucesso em todas as áreas da vida, inclusive no amor. Ninguém gosta de sofrer, mas não é moralismo religioso dizer que superar as frustrações é a conquista mais importante para quem quer ser feliz.
 
Você deseja a realização de seus sonhos? Então, tem de correr o risco de cair e se sentir capaz de sobreviver à dor de amor!
 
Copiado de Flávio Gikovate.

Temos dificuldade de dizer sim às mudanças

"Precisamos analisar as novas oportunidades e convites que a vida nos traz..."

Outro dia assisti a um filme: "Sim senhor" (EUA 2009), dirigido por Peyton Reed. A película tem a seguinte sinopse: após o convite de um amigo, Carl Allen (Jim Carrey) decide ir a um culto de autoajuda, que tem como lema dizer sim a tudo.


Esse filme me fez refletir sobre o quanto muitos de nós somos resistentes a mudanças, a sair do que está estabelecido, a ir para outra possibilidade ainda desconhecida.

Temos muito medo das situações que saem da nossa zona de conforto e, na maioria das vezes, corremos dessas porque criamos a ilusão de "um bicho-papão" logo ali adiante. Questionamos nossa capacidade em lidar com o que ocorrerá, catastrofizamos o futuro. Enfim, criamos um cenário que daria medo para qualquer herói de contos de fadas.

Diante disso ficamos inertes, exatamente onde estamos. Inúmeras vezes perdemos boas oportunidades de aprendizado, de crescimento, de prazer, por medo de que ao dizer "sim", materializássemos todos esses monstros criados na cabeça.

Fato é: desde quando trocar o certo pelo incerto necessariamente é um mau negócio?

Desde quando dizer não, é mais seguro que dizer sim?

Não estou de modo algum fazendo apologia a sairmos todos nos jogando em qualquer nova situação e nem como sugere o filme: propor-se a dizer sim a tudo o que aparecer. Mas questiono o conservadorismo que inúmeras vezes se apresenta diante do novo, pelo único motivo de medos infundados.

Precisamos analisar as novas oportunidades e convites que a vida nos traz avaliando o que percebemos nelas, como nos sentimos frente a elas, o que teremos que abrir mão aceitando-as etc.

Mas, às vezes nos mantemos na inércia e no conforto de passarmos anos e anos sem ao menos nos arriscarmos a trocar a marca do shampoo que utilizamos ou o caminho que fazemos para o trabalho.

Vida é movimento, expansão e contração contínuos. Se ficamos estagnados, começamos a caminhar em direção à morte, ao congelamento do aprendizado contínuo e... qual o sentido então de nossos dias? Poderíamos nos equiparar a uma planta que nasce, cresce, reproduz e morre? Por acaso não temos muito mais potencial do que isso?

Pequenas mudanças ou experimentos diários podem ajudar a vencer o medo do novo, podem trazer a percepção de como o movimento é vida. Quando nos permitimos flexibilizar, fazer escolhas diferentes, por simplesmente estarmos em um momento diferente, podemos então sentir que estamos livres e isso gera uma sensação de alegria, que é oposta a uma sensação de medo, de opressão.

Permitamos ir além dos obstáculos que nós mesmos incutimos: "quem não arrisca nada arrisca tudo".

Leia este texto também em Via Estelar.