terça-feira, 25 de setembro de 2012

É um erro confundir 'esquecer' com perdoar

"Para perdoar é preciso lembrar, pensar, lidar com a questão. Tentar esquecer não ajuda em nada no processo de perceber a situação de outra maneira"
Para muitos, perdoar é uma tarefa muito árdua. Tanto perdoar os outros, quanto a si mesmo.

Quando toco nesse tema em meus atendimentos, questiono para o paciente o que significa para ele perdoar... e é comum ouvir: "esquecer o que aconteceu".
Bem, vamos refletir sobre o assunto com objetivo de ampliar a consciência e, quem sabe, auxiliar no processo de perdão.

Perdão é a capacidade de você lembrar-se de uma ofensa, sem com isso afetar o relacionamento. É olhar para o que aconteceu e não ter sentimentos negativos com relação à pessoa envolvida.

Uma forma de se perdoar é se desculpar. Desculpar, quer dizer retirar a culpa, absolvendo assim o envolvido e desse modo não depositando mais emoções negativas sobre ele.

Desse modo, perdoar nada tem a ver com esquecer. Para perdoar é preciso lembrar, pensar, lidar com a questão. Tentar esquecer não ajuda em nada no processo de perceber a situação de outra maneira, para poder mudar o que se sente. Esquecer é justamente buscar ocultar a situação, não olhando mais para ela e tentando desse modo não sentir mais as emoções negativas.

Não é possível esquecer o que se passou simplesmente como resultado de um desejo. Não temos esse poder de esquecer as coisas quando queremos.

Quando esquecemos algo é: por não ter importância, por já ter sido superado ou por ter sido algo muito traumático e nossa mente faz isso como mecanismo de defesa.

No entanto, nesses casos não é incomum que haja sintomas provenientes dessa questão que se tornou inconsciente, unicamente porque ela não foi tratada ou resolvida, de modo que continua a incomodar mesmo sem o indivíduo lembrar-se dela.

Forgive X forget

Existe um trocadilho na língua inglesa que pode nos ajudar a analisar e compreender melhor o significado do perdão. Perdão em inglês é forgive, enquanto que esquecer é forget.

Ao quebrar a palavra forgive temos for give, que significa (para dar), o que nos permite pensar que o perdão é algo que temos a possibilidade de dar, é feito para isso. É um ato para fora, gera movimento. Você dá ao outro a responsabilidade pela situação e fica livre dos sentimentos negativos.

Já ao quebrar forget temos for get, que significa (para receber). Isso não nos dá autonomia para darmos nada, apenas recebermos. Recebermos o quê? As consequências disso que tanto buscamos esquecer. Ficamos inertes, passivos, porque se pega para si a responsabilidade de lidar com a situação, guardando o conteúdo (na tentativa de esquecer) e desse modo as emoções negativas permanecem. 

Leia este texto também em Via Estelar.

sábado, 15 de setembro de 2012

Quando lutar para mudar uma situação e quando simplesmente aceitá-la?

Cada situação exige um comportamento adequado 

- "Temos a tendência de utilizar experiências passadas para generalizar comportamentos que deram certo" 
Lutar por algo ou aceitar uma situação são duas estratégias opostas, mas que são necessárias e muito úteis em diferentes situações. Persistir somente em uma delas pode trazer resultados desastrosos, quando utilizada no momento errado.

Vejamos as duas histórias abaixo:

1ª) Uma mosca cai em um copo de leite: imersa nesse liquido e impossibilitada de voar, ela começa a se mexer freneticamente lutando contra o mesmo na tentativa de se safar. Ela luta e luta e começa perceber que está ficando cansada e que suas forças estão se esvaindo. De repente, nota que se forma uma película e onde antes ela não tinha apoio nenhum, agora começa a ter uma superfície para se colocar. Diante disso, ela concentra ainda mais suas forças e continua lutando, mexendo suas patas e asas com muito vigor, até que cria uma superfície sólida o suficiente para se apoiar e sair voando.

2ª) Uma mosca cai em um copo de água: imersa nesse liquido e impossibilitada de voar, ela começa a se mexer freneticamente lutando contra o mesmo, na tentativa de se safar. Ela luta e luta e começa perceber que está ficando cansada e que suas forças estão se esvaindo. Continua lutando, mexendo suas patas a asas com o restante das forças que lhe restam. Acaba por morrer afogada.

Percebe-se que o contexto (a situação) nas duas histórias são diferentes e que utilizar a mesma estratégia para ambas não é funcional. Cada uma requer um comportamento específico. Se a mosca utilizada para contar as histórias for a mesma, ela pode ter a tendência de utilizar suas experiências passadas para generalizar comportamentos que deram certo (e é exatamente isso que fazemos), mas como ilustrado acima, para cada situação há um comportamento adequado e utilizar o comportamento que foi útil em uma outra situação pode ter um resultado muito ruim.

Antes de sair agindo, precisamos primeiro compreender a situação e o contexto em que estamos. Depois de feita essa análise, aí sim estamos prontos para escolher se esse dado momento pede uma estratégia de luta ou uma estratégia de aceitação.

Lutar quer dizer buscar um resultado diferente do apresentado através de algum ou alguns comportamentos, ou seja, é procurar mudar a situação de alguma maneira.

Aceitar quer dizer compreender a situação percebendo que há aspectos imutáveis. É não despender energia em algo que não pode ser mudado. Aceitar não quer dizer cruzar os braços e não fazer nada, mas sim entender quais aspectos não são passíveis de modificação e trabalhar para assentir (concordar), assumir ou receber de boa vontade isso que se apresenta.

Leia este texto também em Via Estelar