terça-feira, 31 de maio de 2011

Tenho transtorno bipolar e sofro de insônia. O que eu faço?


O transtorno bipolar (antes conhecido por psicose maníaco-depressiva) é um dos subtipos de transtorno de humor caracterizado por grandes variações do mesmo. Esse humor oscila entre uma fase maníaca ou hipomaníaca (mais branda que a maníaca) e uma fase de depressão, as quais podem se alternar em curtíssimos ou mais longos espaços de tempo.

Veja no quadro abaixo os sintomas em cada uma dessas fases do transtorno bipolar:

Episódio de Mania
Episódio de Depressão
· Aumento de energia e disposição;
· Humor eufórico;
· Irritabilidade, impaciência, "pavio curto";
· Distração;
· Tomada de decisão impulsiva;
· Pensamento acelerado, tagarelice;
· Otimismo exagerado, aumento da auto-estima, “ego inflado”;
· Gastos excessivos;
· Falta de senso crítico.
Em alguns casos podem ocorrer:
· Delírios e alucinações;
· Abuso de bebidas alcóolica, drogas e sexo de risco;
· Desinibição exagerada e comportamentos inadequados.
· Dêsanimo e cansaço mental;
· Dificuldade em se concentrar, raciocínio lentificado, esquecimentos;
· Dificuldade em tomar decisões;
· Isolamento social e familiar;
· Tristeza e possivelmente ansiedade;
· Apatia, desmotivação e diminuição do prazer (em atividades que antes se tinha);
· Baixa autoestima (autodesvalorização);
· Sentimentos de medo, insegurança, desespero e vazio;
· Alteração do apetite (para mais ou para menos);
· Pessimismo, ideias de culpa;
· Diminuição da libido;
· Geralmente aumento do sono, mas pode haver insônia.
Em alguns casos podem ocorrer:
· Dores e problemas físicos (dores de cabeça, problemas gastrointestinais, refluxo, pressão no peito;
· Idéias suicidas.

Carta de paciente com Transtorno Bipolar sobre seu sono

“A primeira coisa afetada quando não estamos equilibrados é o sono. Até dias atrás a minha rotina era dormir 5 horas da manhã e acordar às 19 horas. Estava vivendo um horário invertido e isso estava me deixando deprimido. Trocar o dia pela noite é uma constante na vida do bipolar.

Antes mesmo de termos algum outro sintoma, nosso padrão de sono muda. Seja com sonhos diferentes, pesadelos, insônia, dormindo demais. Quando não estamos bem, o sono se modifica. E o inverso é verdadeiro: para ficarmos bem, temos que dormir bem.

Cada pessoa tem uma necessidade diferente de horas de sono. Uns precisam de mais horas e outros de menos. Porém, cada um precisa dormir suas horas necessárias e no horário certo, com regularidade.

A tolerância para aguentar abusos de falta de sono ou de sono de má qualidade também varia de pessoa para pessoa.

É fundamental ter um ambiente propício para o sono. Com conforto, tranquilidade, paz, silêncio e sem estímulos externos para de fato repousarmos.

Nosso período de sono deve ser respeitado tanto quanto nosso período acordado. E não visto como uma perda de tempo. O sono é importante e prepara o indivíduo para enfrentar os estímulos que se apresentam quando estiver acordado.

Aqui, como o equilíbrio, ter um bom sono também é uma opção consciente e muitas vezes envolve abrir mão de outras coisas.

Como uma dieta alimentar, temos que manter uma regularidade de sono bom, com horários, com qualidade de sono e deixar os excessos para ocasiões especiais.

Devemos também observar nosso padrão de sono para perceber qualquer alteração nele indicando um problema em outra área, visto ser ele o primeiro indicativo de desequilíbrio.

Aprendendo a conhecer nosso sono, respeitá-lo e tratar qualquer alteração em nossa vida assim que ela se apresente como alteração de padrão de sono, nos manterá muito mais facilmente em equilíbrio.”
Segundo o livro Terapia Cognitivo-Comportamental para Transtorno Bipolar “a consistência do ciclo sono/vigília pode ser uma parte crítica na manutenção da estabilidade do transtorno bipolar. Descobriu-se que a perda do sono precipita a mania (...), enquanto reestabilizar o sono é a chave para controlar os sintomas” (2009, p.136).

De acordo com pesquisadores, enquanto as pessoas sem o trantorno se recuperam facilmente após uma noite maldormida, os portadores do transtorno seriam mais vulneráveis a esse tipo de alteração. Isso ocorreria porque essa psicopatologia parece ser altamente influenciada pelo ritmo circadiano - o "relógio biológico" que regula o horário da fome e do sono - e mudanças nesse ciclo poderiam agravar os sintomas.

Quando em fase hipomaníaca ou maníaca geralmente a pessoa com TB tem muita dificuldade para dormir cedo, acaba se ocupando com algumas atividades, pois está muito agitada e quando vai ver já é quase de manhã. Pode ocorrer também de ela achar fácil pegar no sono, no entanto acorda muito mais cedo que o normal e não sente necessidade de dormir mais. É possível que o indivíduo veja isso como uma oportunidade para se dedicar mais ao trabalho, iniciar novos projetos ou atividades ou ainda realizar tarefas negligenciadas, por isso não se sente nem um pouco motivado a melhorar a duração ou qualidade de seu sono.

No entanto, o que pode parecer benéfico no início, mais hora ou menos hora, irá se tornar um grande malefício: haverá um aumento da irritabilidade, intolerância e agitação mental e motora, maior dificuldade de concentração e raciocínio claro e objetivo (dificultando, por exemplo, a tomada de decisões racionais), indisposição para fazer determinadas atividades e, consequentemente uma provável descompensação, tanto no sentido de agravar o quadro de mania, quanto aos poucos, por se estar trocando a noite pelo dia, acarretar em depressão.

Dicas para uma boa noite de sono

- Seja constante. Busque dormir e acordar mais ou menos no mesmo horário todos os dias, inclusive nos finais de semana.

- Dormir é algo para se fazer à noite. Evite dormir durante o dia e ficar acordado até tarde, isso reforça ainda mais um ciclo de sono alterado. Se o seu ciclo já está, busque estratégias (junto a seu médico, seu psicoterapeuta, ou outro profissional que lhe possa dar suporte) para fazer com que seu sono volte ao normal.

- Utilize a cama somente para dormir. Utilize outros cômodos que não o quarto de dormir e a cama para fazer suas atividades, tais como estudar, trabalhar, assistir televisão, ler, entre outras. Crie o hábito de utilizar a cama somente quando for dormir e desse modo permita que seu corpo associe esse móvel ao ato de adormecer e dormir.

- Fique confortável. Organize o ambiente de sono de maneira a ser o mais agradável possível e escolha travesseiros, colchão e roupa de cama que lhe deixem confortável.

- Desacelere no final do dia. Comece a se preparar para dormir com uma hora de antecedência, deixando de fazer atividades que o deixem agitado física e mentalmente, optando por ficar mais calado, em ambiente silencioso e buscando aquietar sua mente.

- Evite estimulantes que possam mantê-lo acordado. Busque ingerir alimentos leves no jantar e evite os que contêm cafeína e açúcar, tão bem como fumar pouco antes de dormir, uma vez que a nicotina também é uma substância estimulante. Comer alimentos gordurosos, picantes ou em grande quantidade também pode prejudicar a qualidade de seu sono.

E se eu não conseguir dormir?

Não entre em pânico. Sono e ansiedade não combinam. Se você começar a se preocupar ou entrar em pânico por não conseguir dormir, isso só irá dificultar ainda mais a situação. O sono é algo que aparece espontaneamente, você não tem como forçar seu corpo de modo que ele aconteça. Assim, quanto mais você tentar se forçar a dormir, mais tempo pode levar para que isso aconteça.

Acalme seu corpo. Para você dormir é necessário que seu corpo e mente trabalhem juntos, desse modo, se sua mente está muito agitada, você poderá utilizar seu corpo para ajudá-lo a relaxar. Há diversas técnicas de respiração e de relaxamento que podem contribuir muito nesse processo (clique aqui e leia).

Mas especialmente o relaxamento de Jacobson pode ser muito interessante nesse contexto. Esse consiste em tensionar um grupo muscular por aproximadamente 3 segundos e após os mesmos relaxar a parte do corpo tensionada, repetindo o mesmo procedimento por 3 vezes em cada grupo muscular. É aconselhável que no início do treinamento dessa técnica se comece com grupos musculares menores (ex. pés, panturrilhas, coxas, quadris, pelve, barriga) e depois com a prática vá aumentando o tamanho dos grupos musculares (ex. pernas, tronco, braços). Sempre se inicia o relaxamento pelos pés e termina na cabeça.

Muito desperto para conseguir dormir?
Saia da cama e faça algo relaxante. Se você está muito agitado ou acordado para conseguir dormir, ficar na cama rolando de um lado para outro não vai ajudá-lo nesse intento. É melhor que você saia da cama e vá fazer algo que a acalme como assistir algum programa tranquilo de televisão ou um filme (não de terror ou de ação), ler um livro (se for chato ou entediante pode ajudá-lo a pegar no sono mais rapidamente) ou ainda alguma outra atividade que lhe traga assossegamento.

O que não deve ser feito quando houver dificuldade para dormir

- Ingerir cafeína

Não prepare um cafezinho quando estiver com dificuldade para dormir, isso pode mantê-lo ainda mais desperto. Se você gosta de tomar café e admira fazê-lo em noites frias, compre um café descafeinado ou busque outra alternativa similar.

- Navegar na internet

Não saia da cama para ir navegar na internet, ao invés de lhe dar sono é mais provável que essa atividade estimule seu cérebro e que você fique mais agitado e curioso.

Programas de televisão e livros instigantes

Se você optar por assistir TV ou ler um livro, escolha uma opção que mais provavelmente não irá estimulá-lo a querer mais. Ex. assistir aquele filme que a tanto tempo você estava querendo.

Tarefas domésticas

Não levante da cama para arrumar, limpar ou organizar a casa. Por mais que essas tarefas estejam pendentes e preocupem-no, fazê-las nesse momento vai deixá-lo mais agitado. Busque anotar o que precisa ser feito (para tirar essa preocupação da cabeça) e tirar o foco disso. Fazer faxina de madrugada não ajuda ninguém a dormir.

Exercícios físicos

Não é uma boa ideia sair da cama para fazer atividades físicas, mesmo sabendo que essas o deixarão cansado. O que ocorrerá, além disso, será uma estimulação da sua mente, fora a descarga de adrenalina que seu corpo sofrerá em consequência desse comportamento. Se fazer exercícios é algo que lhe agrada, faça-os no mínimo com algum espaço de tempo antes de ir deitar-se.


*Utilização de contribuições do livro Terapia Cognitivo-Comportamental para Transtorno Bipolar, Manual do Terapeuta, de Basco e Rush, editora Artmed. Também existente na versão Manual do paciente.

Leia este texto também em Via Estelar.

terça-feira, 24 de maio de 2011

O que é fobia social?


Fobia social É o excesso de ansiedade ou medo persistente de situações nas quais se acredita que se possa ser avaliado enquanto desempenha alguma tarefa comum, como por exemplo, comer, escrever, falar, entre outras coisas, a ponto de impedir de executar ou dificultar grandemente a realização dessa atividade. Há a crença de que se possa comportar de maneira humilhante ou vergonhosa.

Para se fazer o diagnóstico de fobia social é necessário que a pessoa apresente uma forte sensação de ansiedade ou desconforto sempre que exposta a determinadas circunstâncias. Por exemplo, sempre que for falar algo em frente a um grupo (mesmo que de conhecidos ou amigos) a pessoa sente muita ansiedade, sendo de tal forma intensa que pode até parecer uma crise de pânico.

É natural sentir-se acanhado ou incomodado quando se é observado. Todos nós somos um pouco tímidos, ansiosos e inseguros em certos ambientes e diante de estranhos ou pessoas que acabamos de conhecer. Esse grau de timidez varia de pessoa para pessoa de acordo com a situação. Embora seja normal ficarmos pouco à vontade nessas ocasiões, a tendência é de vencermos a inibição inicial e irmos nos familiarizando com a situação e entrosando com as pessoas. Alguns não conseguem isso, evitam certas situações a todo custo.

Desse modo, passa-se a considerar essa vergonha ou timidez como patológicas a partir do momento em que a pessoa sofre algum prejuízo pessoal por causa dela, como deixar de dar sua opinião sempre que se está em grupo, isolar-se socialmente, repetir uma disciplina, abandonar a faculdade, pois há como quesito final uma apresentação pública.

Sendo assim, a intensidade da ansiedade nas pessoas com fobia social é desproporcional ao nervosismo que a mesma situação surtiria em outras pessoas sem esse diagnóstico. Em função disso, elas se apavoram só de pensar em determinadas situações e por isso passam a se esquivar delas podendo sofrer perdas pessoais e profissionais, chegando ao extremo de evitar qualquer contato social.

Sintomas

Não há sintomas específicos de fobia social; como qualquer transtorno de ansiedade os sintomas são aqueles típicos de qualquer manifestação de ansiedade. O que caracteriza particularmente esse transtorno é o desencadeamento dos sintomas de ansiedade sempre que o fóbico social é exposto à observação de outros (e portanto sente-se julgado) enquanto executa uma atividade.

As reações mais observadas são:

• taquicardia,
• tremores,
• sudorese,
• boca seca,
• sensação de bolo na garganta,
• dificuldade para falar,
• ondas de calor,
• rubor,
• dor de barriga,
• diarreia,
• vontade de fazer xixi,
• tonteiras,
• falta de ar,
• mãos geladas,
• ataque de pânico.


Diante da exposição, a pessoa com fobia social terá vontade de sair do local onde se encontra o quanto antes, ou ainda buscará evitar essa situação como puder. Há também a preocupação por antecipação com as situações onde estará sob a apreciação alheia, despertando a ansiedade antecipatória, resultando em sofrimento de até dias antes do evento, podendo influenciar o sono, a concentração, o humor e o apetite.

A pessoa reconhece que o medo é irracional, ou seja, a autocrítica está presente, no entanto sempre que ela pensa ou entra em contato com a situação fóbica, ela não consegue evitar sentir-se muito incomodada e ansiosa. O que faz com que isso aconteça é a intensidade de pensamentos negativos e a avaliação negativa frente a si mesma. A pessoa só percebe as dicas de não aceitação do ambiente. Exemplo: um fóbico social foi a uma festa de aniversário e, no dia seguinte, lembra-se de todas as pessoas que não o cumprimentaram, do aniversariante que mal falou com ele, das pessoas com quem tentou conversar, mas deixaram o assunto morrer. Nunca se lembra, porém, daquelas que o abraçaram, sorriram e ficaram felizes por ele ter ido à festa.

Sendo assim não é necessariamente a situação que é ameaçadora ou ruim, mas a interpretação ou percepção que se faz dela. É como se a fobia social criasse um filtro que provocasse um desvio de memória e atenção que só o deixasse perceber as situações negativas que reforçam suas crenças disfuncionais (negativas) frente a si mesmo, aos outros e ao mundo. Isso é comum nas pessoas ansiosas, uma vez que elas só percebem o que está dando errado, os revezes, e nada do que está dando certo.

Surgimento e causas

A fobia social pode surgir em qualquer época da vida: infância, adolescência, fase adulta ou velhice.

As causas mais comuns são:

• Pais tímidos ou fóbicos sócias, os quais além da contribuição genética, “ensinam” seus filhos a pensarem a agirem como eles, perpetuando essa maneira de ser/agir;

• A falta do treinamento ou do desenvolvimento das habilidades sociais, acarretando em sérias dificuldades nas situações sociais;

• Bullying - Crianças provocadas e maltratadas pelos colegas de escola, que vivenciam experiências marcantes de rejeição e sofrimento no relacionamento interpessoal, são mais suscetíveis ao aparecimento da fobia social. Na verdade, a provocação entre crianças é um caminho de duas mãos: tanto a criança mais tímida e fóbica social é vítima fácil dos gozadores de plantão, quanto à vitimização faz com que a criança torne-se mais tímida e fóbica social.

• Alguma situação constrangedora ou humilhação que a pessoa tenha passado e que desencadeie um medo de vivenciar essa situação novamente (como se fosse um trauma).

Tratamento

O tratamento da fobia social é realizado basicamente de duas maneiras: com medicamentos e psicoterapia.

Dentro do tratamento medicamentoso, são utilizados os tranquilizantes ou ansiolíticos no intuito de diminuir o tremor, a taquicardia e a sudorese. No entanto, como esses medicamentos não são indicados para uso estendido em função de poderem causar dependência, os antidepressivos também são muito utilizados para os mesmos objetivos, além de melhorarem a disposição, o humor e juntamente com a terapia a maneira negativa de “enxergar” as situações.

Muitas vezes os medicamentos são combinados para se potencializarem e após algum tempo, pode-se suprimir o uso de um deles e manter o outro (ex. como o ansiolítico tem uma resposta mais rápida do que o antidepressivo, pode-se manter os dois juntos por certo período e após o início terapêutico do antidepressivo, suprimir o ansiolítico ou somente utilizá-lo em situações específicas e isoladas).

Quanto ao tratamento psicoterapêutico, o mais indicado é a terapia cognitivo-comportamental. Para o caso das fobias sociais, as psicoterapias analíticas têm pouco ou nenhum resultado, pois além de elas serem menos focadas e estruturadas, demorando mais a demostrar ou proporcionar os ganhos do processo ao paciente, também geralmente focam-se em pesquisar a origem dos sintomas. Na fobia social, é muito comum que os paciente saibam de onde vêm seus sintomas, no entanto nesses casos (assim como em muitos outros) descobrir a origem dos mesmos, não cessa seu aparecimento. No tratamento cognitivo-comportamental da fobia social o foco é o presente e o futuro e o objetivo é mudar o comportamento fóbico.

Uma das metodologias utilizadas é a da exposição, na qual o paciente é encorajado e exposto às situações que teme de maneira gradual, crescente e controlada, no intuito de dessensibilizá-lo ao estímulo fóbico. Há também o treino das habilidades sociais, no qual o paciente desenvolverá um repertório maior de habilidades, nas quais muitas vezes não teve oportunidade de aprender ou desenvolver quando criança ou adolescente. Inclui-se aqui a expressão adequada das emoções, conhecida como treino de autoafirmação ou de assertividade. Com o tempo o paciente passa a viver a situação fóbica como outra pessoa qualquer.

Relatos

Mulher executiva que desde criança incomodava-se muito em estar presente nas comemorações (inclusive do seu próprio aniversário), pois as pessoas vinham abraçá-la, beijá-la, falar com ela e ela incomodava-se muito com isso. Hoje apresenta grande dificuldade em ser assertiva, ou seja, em colocar o que pensa e expor o que sente (principalmente emoções ligadas à raiva), gerando diversos problemas e complicações em sua vida. Quando questionada sobre o motivo de sua dificuldade, relata receio quanto ao julgamento do outro, mesmo quando não possui laços com as pessoas envolvidas. Outra dificuldade é colocar sua opinião sempre que está em grupo (mais do que duas pessoas). Pensa que não saberá se colocar, que não terá um bom desempenho em sua fala e que os outros poderão fazer mau juízo dela. Ela ainda passa por processo terapêutico.


João (nome fictício) é um jovem que se queixa muito de se ver como inadequado frente a grupos, julgando-se chato, inconveniente e por isso evitando o contato social sempre que haja mais de uma pessoa envolvida. Diz que quando está somente com um amigo ou amiga sente-se à vontade, mas com mais pessoas percebe-se recatado e não sabe-se portar. Relata que sua maior dificuldade é para conhecer garotas. Diz nunca ter conseguido chegar em uma, pois acredita que fará papel de ridículo, mesmo quando fica claro para ele uma demonstração de interesse por parte dela. Mas hoje, quando alguém apresenta uma garota a ele, ou seja, esse momento inicial de aproximação é superado, percebe não ter dificuldade alguma e relata conversar bem e sentir-se à vontade.

Leia este texto também em Via Estelar.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Tique nervoso: Entenda a sindrome de Tourette


"A Síndrome de Tourette ou Síndrome de Gilles de La Tourette é uma doença de natureza neuropsiquiátrica (neurológica e psiquiátrica), caracterizada por fenômenos compulsivos, que resultam em uma série repentina de múltiplos tiques (motores e vocais) com frequência recorrente (diversas vezes ao dia)"
Piscar, chutar, xingar, se coçar, pigarrear, fazer caretas, tossir, retorcer-se, cheirar, tocar pessoas, etc... São alguns comportamentos que isoladamente e dentro de um contexto podem fazer todo o sentido. Mas e quando eles ocorrem de repente, sem nenhum estímulo aparente e ainda de maneira repetitiva? É possível que algumas pessoas chamem isso de tique e de certo modo elas têm razão.
No entanto, quando esses comportamentos iniciam-se em fase precoce da vida, são extremamente frequentes e estimulados por situações de estresse, podemos estar diante de uma patologia.

A Síndrome de Tourette ou Síndrome de Gilles de La Tourette é uma doença de natureza neuropsiquiátrica (neurológica e psiquiátrica), caracterizada por fenômenos compulsivos, que resultam em uma série repentina de múltiplos tiques (motores e vocais) com frequência recorrente (diversas vezes ao dia). Tem início geralmente na infância ou adolescência e por definição antes dos 18 anos de idade. A idade média de início para os tiques motores é de sete anos e é uma doença de curso crônico e vitalício (para o restante da vida), no entanto pode sofrer remissões de períodos que vão de semanas e até anos.

Características e transtornos associados

Os sintomas mais comumente associados ao transtorno de Tourette são obsessões: pensamentos intrusivos, repetitivos e persistentes e compulsões comportamentos/ações que a pessoa se sente impelida a executar e que tem muita dificuldade em controlar. Hiperatividade, distração e impulsividade são relativamente comuns. Desconforto social com a sensação de estar sendo observado pelos outros, vergonha e humor deprimido também ocorrem com frequência.

A vida social, acadêmica ou profissional pode ser prejudicada, em vista da rejeição pelos outros ou ansiedade do próprio indivíduo quanto a ter os tiques em situações sociais. Em casos severos de Sindrome de Tourette, os tiques podem interferir diretamente nas atividades diárias como por exemplo: estudar, escrever, lavar a louça, etc...

Os tiques são divididos em dois tipos:

Sonoros: fungar, assoviar, repetir frases, grunhir, estalar a língua, suspirar

Motores: pular, estalar os dedos, torcer o pescoço.
A coprolalia (falar palavrões ou obscenidades) e a copropraxia (gestos obscenos) são bem raras, estando presentes em menos de 10% da população com esse transtorno.

Os pacientes têm apenar alguns desses sintomas, geralmente o maior mal sendo o de ver-se como inadequado, negativizando o autoconceito (autoestima) e podendo até dificultar na realização de algumas atividades. No entanto, podem ocorrer complicações raras com alguns deles, mas com repercussões mais sérias para sua saúde física, incluindo ferimentos físicos ou problemas cutâneos tais como machucar-se (por beliscar-se ou coçar-se demasiadamente) ou ainda, a cegueira devido ao descolamento da retina (por bater a cabeça, golpear-se ou cutucar o olho) e problemas ortopédicos (por flexionar demais os joelhos, virar excessivamente o pescoço ou a cabeça).

Existem alguns outros transtornos que geralmente podem estar associados à Síndrome de Tourette, tais como: Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtorno da Aprendizagem, Fobia Social e Depressão.

Tratamento

Não há cura para a Síndrome de Tourette, mas existem várias maneiras de controlá-la. Os tratamentos dependem de cada paciente e são escolhidos de acordo com a necessidade e dificuldades do mesmo no dia a dia, ou seja, o quanto o transtorno afeta sua vida.

A terapia de reversão de hábito é um tipo de terapia comportamental que provou ser bem-sucedida em pacientes que sofrem dessa síndrome. A terapia tem entre seus componentes o treinamento de consciência (estar alerta e consciente), o treinamento de resposta competitiva (que compete com o tique), etc.

Especialistas acreditam que a resposta competitiva é a chave para o sucesso da terapia. Um paciente que sofre de tiques é treinado a identificar melhor quando um tique irá ocorrer (antecipar o comportamento). Quando ele tem um impulso para realizar o tique, realiza uma resposta competitiva: geralmente uma ação que usa os mesmos músculos que o tique usaria. Por exemplo, se ele sofre de um tique de encolhimento dos ombros, uma resposta competitiva seria esticar os músculos do pescoço e empurrar os ombros para baixo. Através desse processo o paciente vai percebendo que pode ter controle, amenizar e até suprimir os tiques.

Alguns dos pacientes com o transtorno precisam de medicação. No entanto, a maioria só faz uso dela se os sintomas interferem de maneira importante em seu cotidiano. Diversos médicos evitam preescrever remédios em função de seus efeitos colaterais e também pelo fato de que a maioria dos tiques podem ser controlados com suporte profissional e conscientização.

Leia este texto também em Via Estelar.

domingo, 8 de maio de 2011

Mal humor pode deflagrar um transtorno psicológico


Quando o mau humor é crônico e constante ele é considerado um distúrbio emocional conhecido como distimia definido inclusive no CID 10 - Classificação Internacional de Doenças da OMS.
Parece estranho procurar um psiquiatra ou psicólogo por causa do mau humor. Saiba que isso não é nenhum absurdo, pois dentre os critérios para avaliar a presença de um transtorno psicológico e dos sofrimentos advindos do mesmo encontra-se o mau humor crônico.

Desse modo, pessoas que vivem “azedas”, reclamam de tudo, estão sempre como se tivessem uma nuvenzinha preta em cima da cabeça ou ainda que se irritam por pouco podem não ser simplesmente “chatas”, mas sim apresentar um distúrbio emocional: a distimia.
A distimia se apresenta como uma depressão, com sintomas de intensidade leve, se inicia em idade jovem (classifica-se como precoce se ocorreu antes dos 21 ou tardia se ocorreu com essa idade ou mais) e traz sofrimento e/ou prejuízos significativos para a pessoa, assim como para seus familiares, amigos e colegas de trabalho. Trata-se de um estado depressivo crônico demonstrado através do mau humor, desânimo, chatice, irritabilidade, birra, implicância, estar de mal com a vida, etc.

A definição para distimia fornecida pelo CID 10 (Classificação Internacional de Doenças, 10ª revisão) é:



“Rebaixamento crônico do humor, persistindo ao menos por vários anos, mas cuja gravidade não é suficiente ou na qual os episódios individuais são muito curtos para responder aos critérios de transtorno depressivo recorrente grave, moderado ou leve”.

Em outras palavras, diferenciando a distimia da depressão mais severa, a segunda apresenta episódios mais marcantes sendo mais fácil diferenciá-los do funcionamento habitual do indivíduo, já a distimia é caracterizada por sintomas depressivos crônicos, de menor severidade e intensidade e que são mantidos por muitos anos.

Os principais critérios diagnósticos propostos pelo DSMIV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, quarta revisão) para o Transtorno Distímico são:

1. Humor deprimido na maior parte do dia, na maioria dos dias, indicado por relato subjetivo ou observação feita por outros, por pelo menos dois anos.

2. Presença, enquanto deprimido, de duas (ou mais) das seguintes características:

• apetite diminuído ou apetite em excesso
• insônia ou hipersônia
• baixa energia ou fadiga
• baixa autoestima
• fraca concentração ou dificuldade em tomar decisões
• sentimentos de desesperança

3. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.
Além desses sintomas descritos pelos manuais de saúde, estudos demonstram que pessoas com distimia podem apresentar outras características psicológicas, que definem como elas se veem (autoconceito) assim como o modo pelo qual percebem o mundo à sua volta e as ouras pessoas.

É frequente a perda generalizada do interesse ou prazer pelas coisas, consequentemente a diminuição da atividade, efetividade ou produtividade (também em função da fadiga), sentimentos de culpa ou preocupação acerca do passado.

O sentimento de inadequação e desconforto é muito comum e, o retraimento ou isolamento social manifesto por querer ficar só em casa, sem receber visitas, sair ou atender ao telefone é relatado nas piores fases.

Esses pacientes reconhecem sua inconveniência quanto à rejeição social (ou seja, percebem suas atitudes disfuncionais), mas não conseguem controlar. As sensações subjetivas de irritabilidade, raiva excessiva ou impaciência são sintomas frequentes e incomodam ao próprio paciente.

Há também uma distorção na autocrítica, fazendo frequentemente com que essas pessoas vejam a si mesmas como desinteressantes ou incapazes. Como esses sintomas tornaram-se uma parte tão presente na experiência cotidiana do indivíduo (em função da grande durabilidade), fica difícil para eles distinguir essa perturbação do humor e é comum o relato de: “Sempre fui dessa maneira”, “Sou assim mesmo” o que impede a procura de tratamento.

É preciso estar atento para que certas características e hábitos disfuncionais não sejam esquecidos, relevados ou afogados pela correria do dia a dia, impedindo que seja procurado ajuda ou ainda que haja sofrimento sem necessidade de tal.

Leia este texto também em Via Estelar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

O que Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e quais os sintomas?


Coisas ruins podem acontecer a todos nós. É preciso saber que muitas delas não temos como controlar, prever ou evitar. Cada um lida e reage de diferentes maneiras a elas. Há pessoas, por exemplo, que se influenciam com eventos que veem pela televisão, já outras não se assustam com a vivência de uma situação traumática.

Essas diferenças interpessoais permitem que frente a uma (ou mais) experiência(s) traumática(s) algumas pessoas desenvolvam o que chamamos de Transtorno de Estresse Pós-Traumático ou também conhecido como TEPT.

Existem alguns fatores que facilitam o desenvolvimento do TEPT:

- O tipo de personalidade pode ter influência;
- Como se aprendeu a lidar com situações estressoras durante a vida;
- A forma como a pessoa lida com a vida; ter pouca habilidade de resolver problemas;
- Estar constantemente exposto a situações de risco.

O TEPT afeta a pessoa como um todo, trazendo perturbação, sofrimento significativo e prejuízo em muitas áreas da vida (profissional, social, relacionamento, lazer, etc...).
Existem sintomas fisiológicos, emocionais e comportamentais no TEPT, sendo todos eles interligados. Abaixo seguem alguns dos principais:

- Tremor, agitação, excitabilidade aumentada;
- Pesadelos ou sonhos aflitivos e recorrentes com o evento;
- Flashbacks (ter a sensação de estar vendo ou vivenciando a situação traumática, como se fosse uma cena de filme);
- Dificuldade de concentração e dificuldade para dormir;
- Continuar a reviver o trauma, muito tempo depois (em pensamento e em sentimento);
- Estar sempre na expectativa de que a situação possa ocorrer do novo ou que algo de ruim possa acontecer;
- Sensação de vazio;
- Perda de esperança e expectativa de futuro (profissional, familiar e de vida);
- Sentimento de impotência e incapacidade de se proteger do perigo;
- Estar tenso ou “no limite”; podendo muitas vezes ter surtos de raiva;
- Forte sentimento de culpa ou preocupação;
- Assustar-se facilmente;
- Afastar-se de lugares, eventos, atividades, pessoas ou objetos que possam trazer alguma lembrança do trauma;
- Perda de interesse por atividades que eram agradáveis no passado.

Pessoas que passam por eventos traumáticos podem ou não desenvolver o Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Dentre as que o desenvolvem, podem começar a perceber seus sintomas logo após o evento ou ainda demorar até 6 meses para começar a apresentá-los.

Caso ilustrativo

Adriana foi vítima de sequestro relâmpago há dois anos quando saia de um shopping. Periodicamente ela tem flashbacks do acontecimento e acorda assustada no meio da noite com pesadelos onde sofre violência física e psicológica.

Deixou de estudar, pois não conseguia voltar à noite da faculdade e não conseguia sair da cama de manhã para poder estudar em período matutino. Passou a ficar muito mais tempo em casa, não se interessando mais por atividades que fazia antes. Engordou 20 quilos, pois só queria ficar deitada em sua cama assistindo televisão.

Atualmente sai mais de casa, mas evita passar próximo do lugar onde ocorreu o evento. Não consegue dirigir sozinha, ainda mais quando se afasta de lugares conhecidos. Muitas vezes deixa de sair para programas sociais com os amigos, pois sente medo de sair à noite.

Percebe-se constantemente ansiosa e alerta, principalmente quando anda sozinha. Assusta-se facilmente em situações, assim como quando vê um homem se aproximando dela. Parece esperar que a qualquer momento o evento se repita.

Adriana é uma paciente que desenvolveu TEPT após ter sido raptada. Permaneceu alguns dias em estado de choque, nos quais apagou parte do evento de sua memória. No entanto, após esse período passou a se lembrar aos poucos de tudo e a apresentar as sintomas descritos acima.

Atualmente está em acompanhamento psicoterápico e psiquiátrico e retomando sua vida e atividades aos poucos. Ela precisa vencer seus medos, sua crença de incapacidade (acredita que é incapaz e justifica sua crença pelas coisas que não consegue fazer) e principalmente reconstruir sua autoimagem, pontos esses que colaborarão para o aumento de sua autoestima.