terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Como percebo os acontecimentos? (Estilos de atribuição)

“Tudo o que vês é o resultado dos teus pensamentos. Não há nenhuma exceção para esse fato... Como um homem pensa, assim ele percebe. Portanto, não busques mudar o mundo, mas escolhe mudar a tua mente sobre o mundo. A percepção é um resultado e não uma causa”

Três pesquisadores da linha cognitivo-comportamental (Abramson, Seligman, e Teasdale) formularam três dimensões do modo como as pessoas percebem e registram as informações.

Eles identificaram que existia uma tendência de cada sujeito fazer tipos particulares de inferências causais aos eventos que o rodeiam. Chamaram essas dimensões de estilos atribucionais (ou Estilos de Atribuição).

Os estilos de atribuição são o modo como cada pessoa atribui causas aos eventos percebidos. Ou seja, a maneira pela qual a pessoa explica para si mesma a razão das situações vivenciadas, o que reflete na sua maneira de enxergar a si, aos outros e seu futuro. As três dimensões formuladas são: internalidade/externalidade, estabilidade/instabilidade e globalidade/especificidade. Elas estão relacionadas às causas: internas (devido à própria pessoa) e externas (devido aos outros, sorte, destino); estável (persiste ao longo do tempo) e instável (transitória); global (afeta diversos aspectos da vida) e específica (limitada ao evento em si).

Os efeitos dos estilos atribucionais

Internalidade
A internalidade excessiva (muito intensa) pode influenciar negativamente a autoestima e gerar culpa e paralisação. Por outro lado, a internalidade pode permitir a sensação de controle sobre a situação, visto que a pessoa se percebe como ator principal, possibilitando mais autonomia e poder frente à situação.

Estabilidade
A estabilidade afeta a desesperança (ou esperança) e influencia na cronicidade da depressão, uma vez que pode-se perceber os eventos ruins como constantes ou como transitórios.

Globalidade
A globalidade influencia a percepção negativa ou positiva dos eventos subsequentes (ex. Se eu perco o emprego e penso que meu marido irá me deixar e nada mais na minha vida dará certo, ou se percebo isso como um evento isolado.

Pesquisas sobre os estilos de atribuição

Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas com relação aos estilos atribucionais e suas implicações no sofrimento psíquico, em especial em quadros depressivos. Identificaram a autoestima como um importante preditor na depressão, sendo que o estilo de atribuição considerado interno, estável e global estaria relacionado a maiores níveis de depressão. Já externalidade, estabilidade e especificidade estariam associadas a uma maior saúde mental.

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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Deus dá o frio conforme o cobertor, mas ele é um pouco curto


"Quando acreditamos que tudo pelo que passamos está dentro de nossa possibilidade, duvidamos menos de nós"

Dizem que "Deus dá o frio conforme o cobertor". No entanto, nosso cobertor não é suficientemente grande para nos cobrir por inteiro. Mas o que isso tem a ver com a TCC?

Perceber as situações por esse ângulo ajuda a lidar melhor com elas. Quando acreditamos que tudo pelo que passamos está dentro de nossa possibilidade, duvidamos menos de nós e, desse modo, tendemos a ativar menos nossa crença de incapacidade e mais nossa crença de capacidade.

E como disse Henry Ford: "Se você acredita que pode, você tem razão. Se você acredita que não pode, você também tem razão”.

Outro ponto: quando percebemos que não podemos resolver ou fazer tudo ao mesmo tempo, isso traz mais tranquilidade (e/ou menos culpa ou ansiedade). Se eu “cubro” determinada área de minha vida, por exemplo o trabalho, meu foco está nele e consequentemente as outras áreas ficarão mais “descobertas”.

Não há como querer “cobrir” tudo ao mesmo tempo. Por isso é preciso ter consciência de que se eu cubro por muito tempo minha cabeça, meus pés ficarão gelados.

Reorganize o "cobertor"

Para reparar isso, terei de optar por "descobrir" alguma outra parte para que possa amparar essa que ficou descoberta. Na prática, quando foco demais uma determinada área da minha vida, a outra ficará estagnada ou com problemas. Desse modo, preciso saber colocar prioridades e, quando o momento exigir, saber lidar com as urgências (não planejadas) e reorganizar o “cobertor”. Ou então separar o que é urgente do que é importante.

Nossa vida é uma constante ginástica, no sentido de perceber que áreas estão descobertas por muito tempo e puxar o cobertor para lá, para então em breve, rever isso novamente e puxar para alguma outra área. Com essa percepção, ficamos mais conscientes de nossas escolhas, de suas possíveis consequências e de como lidar com as situações apresentadas no dia a dia.
Além do mais, passamos a acreditar mais em nós, já que sabemos que não será possível lidar com tudo ao mesmo tempo e que isso não é sinal de incapacidade.

Saber onde está o foco e lidar com isso num determinado momento, diminui a ansiedade, permitindo que possamos utilizar nossas habilidades sem interferências e com isso temos mais chance de termos nossa crença de capacidade reforçada.

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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Desafie as falsas crenças que limitam a sua vida


"Crenças centrais são regras inflexíveis e hipergeneralizáveis que regem a vida do indivíduo e determinam sua maneira de perceber e entender o mundo. É aquilo no que o sujeito acredita fortemente (mas inconscientemente), independente do momento ou da situação. Uma pessoa que tem a crença de que "é um fracasso" ou de que "é incapaz" terá esses pensamentos mesmo que ganhe o Prêmio Nobel!"

Além dos pensamentos automáticos, as crenças e os esquemas são objetos de foco e mudança na terapia cognitivo-comportamental.

Os esquemas são estruturas cognitivas que organizam e processam a entrada de informação em nossa mente e representam os padrões de pensamento adquiridos na infância. Erros lógicos (processamento distorcidos/ou distorções) adquiridos durante o período de desenvolvimento da personalidade vão formar a substância (estrutura) do esquema disfuncional e predispor o indivíduo a ter problemas emocionais. Enquanto que os esquemas de um indivíduo bem ajustados fazem concessões (flexibilizações) para a avaliação realista dos eventos da vida.
Os esquemas de indivíduos mal ajustados resultam na distorção da realidade e facilitam o aparecimento e desenvolvimento de transtornos psicológicos.

Indivíduos com depressão, por exemplo, veem a si mesmos, seu mundo e seu futuro de forma negativa.

Esquema: estrutura muito profunda

Esquema é uma estrutura muito profunda, do ponto de vista psicológico. Os esquemas constituem a base para a codificação, categorização e avaliação das experiências e estímulos que um indivíduo encontra no seu mundo. Sendo assim, são responsáveis por como cada um percebe e internaliza suas experiências.

São os esquemas que direcionam os outros níveis de cognição, tanto as crenças, quanto os pensamentos automáticos e as distorções cognitivas. Se uma pessoa tem um pensamento automático negativo, este foi gerado pelo esquema. Ele funciona como filtro dos estímulos aos quais somos submetidos.

Desse modo, podemos entender os esquemas como as estruturas que definem as outras cognições, sendo o conteúdo das crenças, determinado pelos esquemas e, o conteúdo dos pensamentos automáticos similar aos de nossas crenças nucleares – explico abaixo. Utilizando a imagem de um iceberg, os esquemas definiriam a forma (estrutura dele), as crenças representariam a base deste e os pensamentos automáticos a ponta, acima da superfície da água.

Crenças nucleares e intermediárias

As crenças podem ser de dois tipos: as crenças centrais (ou também chamadas de nucleares) e as intermediárias.

Crenças centrais são regras inflexíveis e hipergeneralizáveis que regem a vida do indivíduo e determinam sua maneira de perceber e entender o mundo. É aquilo no que o sujeito acredita fortemente (mas inconscientemente), independente do momento ou da situação. Uma pessoa que tem a crença de que "é um fracasso" ou de que "é incapaz" terá esses pensamentos mesmo que ganhe o Prêmio Nobel! Para manter essa crença de incapacidade ela pode usar (sem se dar conta, é claro), por exemplo, das distorções cognitivas.

Quanto às crenças intermediárias, são relacionadas a diversos aspectos da vida que aparecem como pressupostos, regras e atitudes. Elas não são tão rígidas e generalizáveis como as crenças centrais. Apesar dessa diferença, elas se conectam com as crenças centrais e existem seguindo a "lógica" destas últimas. Vamos ver um exemplo: se alguém tem uma crença central que diz "Não sou digno de ser amado", pode ter uma crença intermediária que oriente: "Se fizer tudo que os outros querem, posso ser amado” (positiva). “Se não fizer tudo o que os outros querem, serei desprezado” (negativa). Enquanto esse indivíduo conseguir se auto-sacrificar e tiver "uma chance" de ser amado (parte positiva do pressuposto), poderá se manter funcional, ou seja, adequado à situação, "funcionando bem". Mas no momento em que isso não dá certo, a parte negativa do pressuposto (crença intermediária) entra em ação e ele fica deprimido. Um exemplo das regras, neste mesmo caso, seria o sujeito pensar: "Deveria me auto-sacrificar sempre" e, de atitude, "Vou me auto-sacrificar".

As crenças intermediárias, por não serem tão rígidas quanto à crença central, são mais fáceis de serem modificadas no processo terapêutico e os pensamentos automáticos por sua vez, mais flexíveis e fáceis de serem modificados do que as crenças intermediárias. É por isso, que em um processo de TCC, inicia-se trabalhando com os pensamentos automáticos e vai se aprofundando até chegar à flexibilização das crenças centrais.

Estratégias compensatórias

Outro conceito interessante é o de estratégias compensatórias (ou comportamento de segurança). Essas são as "táticas" que o indivíduo usa para lidar com as crenças centrais, ou seja, para compensá-las ou buscar proteger-se.

No caso descrito, ter um comportamento de auto-sacrifício seria um exemplo de estratégia compensatória para lidar com a crença central: "Não sou digno de ser amado”. O que ocorre na prática é que a pessoa ao utilizar um comportamento de segurança, alivia a ansiedade ou incômodo causado pela possibilidade de ativação da crença. No entanto, esse alívio é somente um paliativo momentâneo, pois acaba por reforçar ainda mais a crença nuclear negativa (crença central) existente: "Quando eu me sacrifico como forma de merecer receber amor de outro, acreditarei ainda mais que não sou digno de amor, a não ser que repita esse comportamento novamente".

As crenças centrais, podem ser divididas em três crenças básicas disfuncionais:

• Crenças de incapacidade: crenças sobre ser incapaz, incompetente, ineficiente, falho, enganador, fracassado.

• Crenças de inadequação: crenças sobre ser inadequado, defeituoso, imperfeito, diferente.

• Crenças de desamor: crenças sobre ser indesejável incapaz de ser gostado, amado ou querido, sem atrativos, rejeitado, abandonado, sozinho.

Pontos importantes sobre as crenças:

• Elas são ideias, não necessariamente verdades.

• É possível acreditar com convicção nelas, até mesmo “sentir” que são verdades e ainda assim, podem ser em grande parte ou inteiramente não verdadeiras.

• As crenças estão enraizadas em eventos da infância e se desenvolvem ao longo da vida.

• As crenças centrais são mantidas através da operação dos esquemas relativos, os quais fazem com que a pessoa filtre os dados da realidade de maneira a reconhecer os que apoiam as crenças enquanto ignoram, reduzem ou distorcem os que são contra.

• Sendo as crenças conteúdos construídos e aprendidos, é possível revê-las desconstruir o que não é funcional e aprender conteúdos mais adaptados e realistas.

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terça-feira, 29 de novembro de 2011

Para atingir o sucesso não basta persistência, é preciso perseverança

Persistência - "O problema se encontra quando os resultados atingidos através de determinados comportamentos não são os desejados e permanece-se repetindo-os" 

 Existem diferenças entre persistência e perseverança muito além das definições do dicionário. Isso pode inclusive influenciar ou até ser responsável pela ineficiência ou incapacidade em se alcançar o sucesso.

Começando pelos pontos em comum, tanto quem é persistente quanto quem é perseverante visa um objetivo (atingir um resultado) e o foco encontra-se no mesmo. Quem é persistente busca atingir esse objetivo mantendo a mesma estratégia, ou seja, repetindo os mesmos passos ou ainda, “fazendo mais do mesmo”. Quando se está aprendendo a dirigir, aprendendo um novo idioma ou qualquer outra habilidade que seja, esse é o único caminho que permite que se alcance a excelência. A repetição, o treino ou a persistência são impreteríveis.

O problema se encontra quando os resultados atingidos através de determinados comportamentos não são os desejados e permanece-se repetindo-os. Einstein já nos disse que: “Não há maior demonstração de insanidade do que fazer a mesma coisa, da mesma forma, dia após dia, e esperar resultados diferentes.” Desse modo, quando se visa algo novo, é preciso buscar estratégias alternativas.

O ex jogador de basquete Michael Jordan em seu livro “Nunca deixe de tentar” diz: “Você pode praticar arremessos durante oito horas por dia, mas, se a sua técnica estiver errada, tudo o que irá conseguir é se tornar muito bom em arremessar a bola do jeito errado.” É preciso então aprender com os erros, analisando o que pode ser feito de maneira diferente para desse modo alcançar um resultado diferente.

 Perseverança e sucesso 

Ser perseverante pressupõe criatividade, flexibilidade e visão. Criatividade para gerar diferentes estratégias, flexibilidade para ter “o jogo de cintura” necessário para adotá-las quando preciso e visão para antecipar possíveis riscos, assim como pontos positivos ou negativos das estratégias. Assim, perseverança é criar diferentes soluções para resolver um problema ou ainda buscar diversas alternativas para se alcançar um objetivo.

Há a tendência de com o passar dos anos, as pessoas tornarem-se mais persistentes, ao invés de perseverantes, pois podem passar a se basear em suas experiências de vida passadas e em função disso enrijecerem seu modo de fazer as escolhas de estratégias futuras. Do mesmo modo, as crianças ou os jovens, como ainda estão aprendendo e testando diversas coisas, podem ter mais abertura nas suas escolhas. No entanto, como persistência e perseverança são atitudes aprendidas e, desse modo, podem ser treináveis (aprendidas) qualquer um, em qualquer idade pode desenvolver qualquer uma delas.

A técnica abaixo é muito simples, mas pode ser uma poderosa ferramenta para auxiliar a empreender comportamentos mais perseverantes e estratégicos:

 1- Qual seu OBJETIVO nessa situação?

 2- Quais são as ALTERNATIVAS?

 3- Quais as VANTAGENS e DESVANTAGENS de cada uma das alternativas?

 4- ESCOLHA uma alternativa.

 5- FAÇA o que foi escolhido. 6- Avalie os RESULTADOS.

 7- Aprenda e faça MELHORIAS.

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sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Processo de perda e luto

Todas as pessoas que têm algum tipo de perda ou que têm a possibilidade de sofrer (morte de ente querido, diagnóstico de doença, falência, traição, punição criminal, etc.) passam por um processo de luto, para poder elaborar e lidar com essa situação. A falecida psiquiatra suíça, Elisabeth Kubler-Ross pesquisou e trabalhou com esse tema e descreveu cinco fases desse processo de luto.

Dentro da abordagem da TCC, é possível perceber que existem pensamentos e comportamentos comuns às pessoas que se encontram vivenciando cada uma dessas fases. Essa descrição pode facilitar a compreensão e a percepção sobre o que ocorre com pessoas que vivenciam alguma forma de perda ou luto.

  Primeira fase: negação
Nessa fase a pessoa nega a existência do problema ou situação. Pode não acreditar na informação que está recebendo, tentar esquecê-la, não pensar nela ou ainda buscar provas ou argumentos de que ela não é a realidade.

 Pensamentos
 • “Isso não é verdade!”
• “Vai passar.”
• “Sempre dou um jeito em tudo, vou resolver isso também.”

Comportamentos
 • Buscar uma segunda opinião ou outras explicações para a questão.
 • Continuar se comportando como antes (ignorando a situação).
 • Não aderir ao tratamento (no caso de doença) ou não falar sobre o assunto (no caso de morte, desemprego ou traição).

  Segunda fase: raiva
Nessa fase a pessoa expressa raiva por aquilo que ocorre. É comum o aparecimento de emoções como revolta, inveja e ressentimento. Geralmente essas emoções são projetadas no ambiente externo; percebendo o mundo, os outros, Deus, etc. como causadores de seu sofrimento. A pessoa sente-se inconformada e vê situação como uma injustiça.

 Pensamentos
• “Por que eu?”
• “Isso não é justo!”
• “Por que fizeram isso comigo?”

 Comportamentos
• Perde a calma quando fala sobre o assunto.
• Recusa-se a ouvir conselhos.
• Evita falar sobre o assunto.

  Terceira Fase: negociação
Nessa fase busca-se fazer algum tipo de acordo de maneira que as coisas possam voltar a ser como antes. Essa negociação geralmente acontece dentro do próprio indivíduo ou às vezes voltada para à religiosidade. Promessas, pactos e outros similares são muito comuns e muitas vezes ocorrem em segredo.

 Pensamentos
• “Vou acordar cedo todos os dias, tratar bem as pessoas, parar de beber, procurar um emprego e tudo ficará bem.”
• “Vou pensar mais positivamente e tudo se resolverá.”
• “Deus, deixe-me ficar bem de saúde, só até meu filho crescer.” (pessoa ao saber que está doente. 

Comportamentos
• Rezar e fazer um acordo com Deus.
• Buscar agradar (no caso de uma traição).
• Se alimentar com produtos lights e diets para compensar os outros alimentos.

  Quarta fase: depressão
Nessa fase ocorre um sofrimento profundo. Tristeza, desolamento, culpa, desesperança e medo são emoções bastante comuns. É um momento e que acontece uma grande introspecção e necessidade de isolamento.

 Pensamentos
• “Não tenho capacidade para lidar com isso.”
• “Nunca mais as coisas ficarão bem.”
• “Eu me odeio.”

 Comportamentos
• Chorar.
• Afastar-se das pessoas.
• Comportar-se de maneira autodestrutiva.

  Quinta fase: aceitação
Nessa fase percebe-se e vivencia-se uma aceitação do rumo das coisas. As emoções não estão mais tão à flor da pele e a pessoa se prontifica a enfrentar a situação com consciência das suas possibilidades e limitações.

 Pensamentos
• “Não é o fim do mundo.”
• “Posso superar isto.”
• “Posso aprender com isto e melhorar.”

 Comportamentos
• Buscar ajuda para resolver a situação.
• Conversar com outros sobre o assunto.
• Planejar estratégias para lidar com a questão.

 As pessoas não passam por essas fases de maneira linear, ou seja, elas podem superar uma fase, mas depois retornar a ela (ir e vir), estacionar em uma delas, sem ter avanços por longo período ou ainda suplantar todas as fases rapidamente até a aceitação. Não há regra. Tudo depende do histórico de experiências da pessoa e crenças que ela tem sobre si mesma e sobre a situação em questão. Tem pessoas que podem passar meses ou anos num vai e vem e não chegar a aceitação nunca. Tem pessoas que em poucas horas ou dias fazem todo o processo, isso varia também em função da perda sofrida pela pessoa.

 O terapeuta de TCC trabalha desafiando os pensamentos automáticos negativos (PANs), fornecendo suporte emocional e planejando conjuntamente com a pessoa comportamentos alternativos mais saudáveis e produtivos.

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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ser assertivo é mais vantajoso que ser agressivo ou não assertivo

"Andrew Salter, considerado um dos pais da terapia comportamental, descreve em seu livro Conditional Reflex Therapy(Terapia de Reflexos Condicionados, 1949) que as pessoas não assertivas buscam ser tudo para todo mundo e culminam em não ser nada para si mesmas"
Existem basicamente três tipos de comportamento: assertivo, não assertivo e agressivo. Para os três há vantagens e desvantagens. De modo geral, em longo prazo o mais vantajoso é o comportamento assertivo. Veja a diferença entre eles.
Comportamento assertivo
Assertividade é o comportamento de expressar diretamente os próprios pensamentos (opiniões, vontades e ideias) ou emoções, sem que para isso seja coercitivo (ameaçador ou autoritário) para o outro. Quando a pessoa é assertiva ela expressa o que pensa/sente sem que viole o direito do outro.
O comportamento assertivo, na maioria das vezes, é bastante reforçador para a pessoa que o emite; uma vez que ela se expressa livremente, dizendo o que está pensando ou sentindo e através disso fica satisfeita por sua ação, independente do resultado obtido.
Um dia de cada vez
Geralmente esse comportamento facilita a pessoa a se aproximar de seus objetivos, pois ao expor o que quer, faz com o que os outros estejam a par disso, em certos casos, inclusive mobilizando-se para ajudá-la. No entanto, há casos em que há a possibilidade de a pessoa não conseguir o que quer, mesmo sendo assertiva ou ainda receber como resposta um comportamento de agressividade.
Dois exemplos que demonstram respectivamente essas duas possibilidades são: uma pessoa dizer que quer um aumento e não receber; um dos cônjuges (o que controla o orçamento) dizer que terão de fazer economia durante os próximos meses e o outro se zangar com isso, dizendo que não abrirá mão de suas regalias.
Comportamento agressivo
Uma maneira agressiva de ser comportar pode ser muita reforçadora, pois é possível que através dela se obtenha o que se quer. Em outras palavras: "Se eu tenho algum objetivo e me utilizo de agressividade, é possível que eu alcance o que desejo"
O comportamento agressivo pode ser expresso de maneira direta ou indireta. Ocorre de maneira direta quando há agressão verbal (xingamentos, ameaças, comentários hostis) ou agressão física e de maneira indireta quando há comentários sarcásticos, cochichos maliciosos pelas costas, olhares ‘fuzilantes’, gestos hostis, etc...
Quando se comporta de maneira agressiva, a pessoa é coercitiva com outro, impondo-lhe à força a sua vontade ou opinião ou ainda buscando vencer a situação a qualquer custo. Desse modo viola os direitos da outra pessoa. A pessoa agressiva dessa maneira se torna inadequada e desonesta.
"Quando me utilizo de comportamento agressivo busco obter o que quero através da diminuição do outro. Humilho-o, faço com que se sinta mais fraco e, com isso, tenha menos capacidade de expressar seus desejos e necessidades. A mensagem que transmito é que minha opinião é melhor do que a sua, que os meus sentimentos é que contam, não os seus. Em suma me importo somente comigo nesse momento e você não tem a menor importância"
É possível perceber que esse comportamento tem uma repercussão negativa nas relações interpessoais. Indivíduos que mantêm padrões consistentes de comportamento agressivo não são candidatos a terem relações duradouras e prazerosas. Além disso, correm o risco de sofrerem contra-agressões de outras pessoas diante de seus comportamentos.
Comportamento não assertivo
O comportamento não assertivo, chamado por alguns de comportamento passivo, trata-se da não expressão dos próprios pensamentos ou sentimentos, ou ainda de não expressá-los honestamente. Implica na violação dos próprios direitos e permite que outros o façam também.
O comportamento não assertivo pode ocorrer verbalmente de diversos modos. A pessoa pode expressar seus pensamentos e sentimentos de maneira autoderrotista ou não dizendo exatamente o que lhe passa na cabeça ou ainda como se sente. Pode também desculpar-se ininterruptamente, quase que como se desculpasse por existir. Todas essas maneiras de expressar-se faz com que as outras pessoas não lhe deem atenção, assim como ao que diz. Geralmente os comportamentos não assertivos verbais são acompanhados de comportamentos não assertivos não verbais, sendo esses: falar em tom baixo, evitar contato visual, postura corporal curvada, entre outros.
A postura não assertiva além de demonstrar uma falta de respeito às próprias necessidades, também é uma falta de respeito para com o outro em poder assumir a capacidade de lidar com frustrações, problemas e responsabilidades. O que se busca através da não asserção é apaziguar os demais e evitar conflitos a todo custo. Isso se faz inúmeras vezes passando por cima de si mesmo. No entanto, se esquivar da ansiedade que é causada pelos conflitos ou perceber que deixou as pessoas livres de preocupações é algo que reforça em muito essa atitude.
O resultado de uma postura não assertiva é ter uma dificuldade maior em atingir seus objetivos, pois ao não expressar suas necessidades dificulta com que essas sejam atingidas; da mesma maneira que não dizer sua opinião impede que o outro tenha consciência dela e possa compreendê-la ou até mesmo concordar com ela.
Outro resultado negativo é que com a repressão de sentimentos possam surgir diversas doenças ou sintomas psicossomáticos como: dor de cabeça, gastrite, tensão muscular e muitos outros.
Além disso, após diversas situações em que o comportamento não assertivo foi adotado, é bem provável que haja uma explosão de agressividade, uma vez que todos têm um limite para a quantidade de frustração que podem aguentar. Nesse ponto, a expressão da emoção irá muito além da proporção do estímulo que a desencadeou.
Quem se relaciona com uma pessoa não assertiva, além de poder ser alvo de explosões de raiva sem aviso prévio, também tem muita dificuldade em saber o que o outro quer. Precisa inferir ou quase que adivinhar o que o outro pensa ou sente. Isso causa frustração, confusão, afastamento e/ou raiva. Outro ponto é que é uma carga muito pesada ter que se responsabilizar por tomar decisões por outra pessoa, além do que essa pode não ficar satisfeita com as escolhas feitas.

Andrew Salter, considerado um dos pais da terapia comportamental, descreve em seu livro Conditional Reflex Therapy (Terapia de Reflexos Condicionados, 1949) que as pessoas não assertivas buscam ser tudo para todo mundo e culminam em não ser nada para si mesmas. São camaleões, tratando de agradar a todos com que estão. Expressam tudo, menos o que sentem. Têm muito dificuldade em dizer “não”. Buscam ser agradáveis com as pessoas e quando não têm isso como retorno, pensam que é por sua própria culpa. Veem-se como tolerantes, democráticos e de mente aberta. São honestos intelectualmente, mas emocionalmente são uns mentirosos. Sua cortesia pode ser uma fraude, pois nunca se sabe o que realmente se passa em suas cabeças e isso não conduz a relações sociais calorosas. Estão sempre analisando e planejando. Interagem com o ambiente depois de deliberá-lo, porque nunca podem agir espontaneamente. Não têm certeza de seus sentimentos e opiniões sobre nada.
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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Você sabe o que é escoriação neurótica (skin picking) e tricotilomania?


A escoriação neurótica ou skin picking é definida como uma dificuldade em resistir ao impulso de causar ou agravar lesões à própria pele (coçar, arranhar, picar), usando para isso unhas, dedos ou outros objetos.

Para que seja caracterizada como escoriação neurótica, deve-se perceber um padrão comportamental ou psicológico clinicamente importante (deve ocorrer frequentemente e ser algo que ocupe certo tempo e/ou seja motivo de preocupação para o indivíduo) e que cause risco significativo de sofrimento, dor ou deformidade.

A escoriação neurótica (skin picking) pode ocorrer sobre lesões já existentes (acne escoriada) ou sobre a pele sadia. Os locais mais acometidos são a face, membros superiores e inferiores.

A maioria dos pacientes se agride diariamente, sentindo vergonha e falta de controle sobre o comportamento. Costumam esconder as lesões e cicatrizes, por exemplo, utilizando maquiagem para camuflá-las. Quando é imposta alguma restrição a esse comportamento, o paciente relata dificuldade para se controlar. Há concordância nos relatos de que há um aumento de tensão antes do comportamento e alívio após o mesmo.

Tricotilomania

A tricotilomania caracteriza-se pelo ato de puxar de forma recorrente os próprios pelos ou cabelos por prazer, satisfação ou alívio de tensão, acarretando uma perda capilar perceptível. Os locais onde os pelos ou cabelos são arrancados podem compreender qualquer região do corpo (couro cabeludo, cílios, sobrancelhas, região púbica, períneo, axila e abdômen), sendo os pontos mais comuns o couro cabeludo, sobrancelhas e cílios.

O ato de arrancar cabelos pode ocorrer por curtos episódios ao longo do dia ou com menos frequência no decorrer do dia, mas com período de tempo mais prolongado, podendo se estender até por horas. Circunstâncias estressantes frequentemente aumentam esse comportamento, mas ele também ocorre em estado de relaxamento ou distração (por exemplo, assistindo televisão ou lendo um livro). Um sentimento de tensão aumentada está presente imediatamente antes do ato de arrancar os cabelos e há um alívio após o comportamento. Para alguns, a tensão não precede necessariamente o ato, mas está associada com tentativas de resistir a esse anseio. Alguns indivíduos experimentam uma sensação "tipo coceira" no couro cabeludo, que é aliviada pelo ato de arrancar os cabelos.

Os critérios diagnósticos do DSM-IV-R (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) para tricotilomania são:

A. Comportamento recorrente de arrancar os cabelos, resultando em perda capilar perceptível.

B. Sensação de tensão crescente, imediatamente antes de arrancar os cabelos ou quando o indivíduo tenta resistir ao comportamento.

C. Prazer, satisfação ou alívio ao arrancar os cabelos.

D. O distúrbio não é melhor explicado por outro transtorno mental, nem se deve a uma condição médica geral (por exemplo, uma condição dermatológica).

E. O distúrbio causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo.

Tratamento

A combinação de farmacoterapia e terapia cognitivo-comportamental pode ser efetiva para o tratamento de ambas essas psicopatologias, reforçando a ideia de uma abordagem multidisciplinar para seu tratamento.

Nessas duas doenças a TCC enfoca as cognições disfuncionais (padrões de pensamento negativo) e/ou comportamentos que causam danos à pele ou ao cabelo, identificando-os e, modificando esses pensamentos para outros alternativos e mais funcionais; substituindo os comportamentos inadequados por comportamentos assertivos e/ou mais adequados.

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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Comportamento cleptomaníaco é dissociado de carência financeira


"O que leva a pessoa a furtar, é uma sensação crescente de tensão antes do furto e uma alívio dessa tensão, prazer ou satisfação após cometê-lo"

A característica principal da cleptomania é o fracasso persistente em resistir a impulsos de furtar objetos.
Desse modo, esse comportamento ocorre inúmeras vezes desassociado da carência financeira. Em outras palavras, os objetos são furtados apesar de geralmente terem pouco valor monetário ou utilidade para a pessoa. Essa teria condições de comprá-los e não é raro dá-los de presente ou jogá-los fora. Às vezes, o indivíduo pode colecionar os objetos furtados ou devolvê-los disfarçadamente. Embora geralmente as pessoas com esse transtorno evitem furtar quando haja uma possibilidade de detenção imediata (por ex: na presença de um policial), elas não costumam planejar seus furtos anteriormente e nem avaliam corretamente as chances existentes de serem presas. O furto ocorre sem auxílio ou colaboração de outras pessoas.
O que leva a pessoa a furtar, é uma sensação crescente de tensão antes do furto e uma alívio dessa tensão, prazer ou satisfação após cometê-lo. O furto não é cometido para expressar raiva ou vingança. Há a consciência de que o ato é errado e sem sentido. O indivíduo com frequência tem medo de ser pego e se sente triste ou culpado em relação aos furtos.
A cleptomania é uma condição rara, que parece ocorrer em menos de 5% de pessoas que cometem furtos em lojas. Ela parece ser mais comum entre mulheres, embora não se saiba a razão disso.
A cleptomania deve ser diferenciada de atos comuns de roubo e furtos. O furto comum (planejado ou impulsivo) é deliberado e motivado pela utilidade do objeto ou por seu valor monetário. Algumas pessoas, especialmente adolescentes, também podem furtar como um ato de rebeldia, de aceitação pela turma ou como um *rito de passagem.
O tratamento baseia-se em acompanhamento psicoterapêutico e psiquiátrico. A TCC demonstra ter bons resultados na diminuição de incidências e maior controle sobre os episódios de cleptomania, como demonstrado em estudos e pesquisas.
* Rito de passagem: ato realizado pela pessoa para oficializar sua passagem de uma fase de vida para a outra. Na comunidade indígena há muito isso. Por ex: o garoto índio para poder entrar no mundo adulto é enviado para caçar uma animal ou ficar longe da tribo e sobreviver sozinho por alguns dias. Na nossa sociedade, em alguns grupos de adolescentes, é solicitado que seus membros (ou alguém que queira ingressar nele) provem que sejam merecedores e aí, por exemplo, eles têm de roubar algo de valor ou fazer algo perigoso como prova.

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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sou viciado em internet, jogos online e videogames?

Vício em internet, jogos online e videogames - "Essa dependência se caracteriza pelos seguintes comportamentos: foco principal nessas atividades, necessidade cada vez maior de aumentar o tempo online, alívio de ansiedade quando online, conflitos internos por estar online, síndrome de abstinência e recaídas".

Atualmente tecnologias como internet, videogames e jogos de computador fazem parte da vida da grande maioria dos jovens. Boa parte deles as utiliza de maneira saudável. No entanto, alguns se excedem e colhem consequências negativas.

A dependência da internet e dos jogos eletrônicos manifesta-se como uma incapacidade do indivíduo em controlar seus impulsos de conectar-se ou jogar. O envolvimento passa a ser cada vez maior e o indivíduo percebe cada vez mais a sua perda de controle frente a esses estímulos. Parte deles passa a consumir mais tempo, assim como dominar seu foco de interesse.

Essa pessoa quando não pode acessar esses estímulos fica ansiosa, com raiva e/ou chateada e, quando o faz, sente um grande alívio. Pode roubar dinheiro para alimentar seu vício (ex: assinar jogos na internet).

Como seu foco de atenção está nos estímulos dos jogos eletrônicos e internet, suas relações sociais passam a limitar-se a esses meios, optando por sacrificar outras atividades como sair com os amigos ou ficar com a namorada; além de geralmente ter uma piora em seu desempenho escolar e em outras atividades. A perda ou deficiência do sono também é um dos sintomas percebidos, já que há uma estimulação psicológica contínua. Inúmeras vezes, até a alimentação é posta de lado.

O vício pode manifestar-se ligado a: acesso do(s) e-mail(s), chats (salas de bate-papo), jogos online, compras via internet, jogo de videogame ou computador, conteúdo especifico (eróticos, de relacionamento, bolsa da valores, busca de informações, etc...).

Principais sintomas de dependência de jogos eletrônicos e internet

• Saliência: o jogo se torna a atividade mais importante da vida, dominando seus pensamentos (saliência cognitiva) e comportamentos (saliência comportamental);
• Modificação de humor/euforia: experiência subjetiva de prazer, euforia ou mesmo alívio de ansiedade relatada pela pessoa quando faz uso da internet ou dos jogos;
• Tolerância: necessidade de aumentar cada vez mais os períodos que utiliza a internet ou joga, para que possa alcançar o mesmo estado de prazer ou modificação do humor;
• Abstinência: estados emocionais e fisiológicos desconfortáveis quando ocorre descontinuação ou diminuição súbita da atividade, seja essa de maneira intencional ou forçada;
• Conflito: entre a pessoa que possui o vício e familiares e/ou amigos (conflito interpessoal); com outras atividades (trabalho, escola, vida social, prática de esportes, etc...) ou até do indivíduo com ele mesmo, relacionado ao fato de estar jogando ou conectando-se excessivamente (conflito intrapsíquico);
• Recaída/restabelecimento: tendência de retornar rapidamente ao padrão anterior de jogo ou uso de internet de modo excessivo após períodos de abstinência ou controle.

Para saber se você é dependente de internet, acesse o site do Programa de Dependência da Internet do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP e faça o teste: http://www.dependenciadeinternet.com.br/ 

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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Discurso de Steve Jobs

 

 Recentemente assisti novamente o discurso feito por Steve Jobs na Universidade de Stanford na formatura de alguns graduandos. Não assisti somente uma vez, mas inúmeras outras e percebi que, cada vez que assistia, ele soava de modo diferente.

 O discurso realmente me emocionou muito, pois foi a mesma situação, percebida de maneira diferente, causando emoções diferentes e comportamentos diferentes. Por isso decidi escrever sobre ele e ressaltar alguns pontos que me chamaram a atenção. 

 Para quem não conhece Steve Jobs (apesar de notícias sobre ele estarem por todos os lados, em função de sua morte causada por um câncer no pâncreas em 05/10/2011), ele foi dado para adoção por sua mãe biológica e inicialmente rejeitado pela primeira família, pois eles queriam uma menina. Foi então adotado por um casal que não havia feito faculdade. Criou a Apple com um amigo e posteriormente a NeXT e o estúdio Pixar. 

 Steve Jobs descreve três histórias em seu discurso em Stanford. Quero me ater principalmente às duas últimas que ele menciona. Em sua segunda história, ele fala sobre amor e perda e conta que antes dos 30 anos conseguiu criar e erguer uma empresa junto com amigo partindo do uso da garagem de seus pais. Conta que após 10 anos, a empresa já tinha um grande faturamento e, próximo dessa época acabou sendo mandado embora da própria empresa que havia criado. Diz que esse havia sido o foco de toda sua vida adulta e que por algum tempo sentiu-se devastado.  

 O que o fez então, seguir adiante?  

 O que o fez ser reconhecido como um dos grandes líderes mundiais?  

 Respondo. A mudança de percepção, colocar as coisas sob outra perspectiva. 

 O que foi percebido em um primeiro momento como uma rejeição, acabou dando lugar a uma percepção alternativa da realidade e foi isso que proporcionou a Steve Jobs a motivação para continuar seguindo em frente. Usando suas palavras: “O peso de ser vitorioso foi substituído pela leveza de ser iniciante outra vez, sem muita certeza de nada, e isso me deu liberdade para começar um dos períodos mais criativos da minha vida.”  

 Nada disso seria possível caso Steve Jobs permanecesse com uma percepção negativa da situação. Ver a situação de outro modo, fez com que ele sentisse essa leveza descrita por ele facilitando a possibilidade de criar sem medo. Desse contexto surgiram as outras duas empresas já citadas aqui e seu casamento. 

 A próxima história que ele conta é relacionada à morte. Relata que ainda jovem leu a seguinte citação: “Se você viver cada dia como se fosse o último, algum dia provavelmente você acertará”. E, diante disso, ele descreve que usou essa frase todos os dias, se perguntando: “Se hoje fosse o último dia da minha vida, eu iria fazer o que farei hoje?” Caso a resposta fosse sim, ele seguia em frente, caso fosse negativa por alguns dias consecutivos ele revia o seu caminho e escolhas. 

 Esse é um jeito muito interessante de ver a vida. Enxergá-la lembrando-se da única coisa que temos certeza que acontecerá a todos nós: a morte e, que diante dela, tudo o que realmente não é importante, perde o peso, perde o significado. Steve Jobs afirma que a morte é provavelmente a maior invenção da vida, pois é um agente de mudança e permite tirar da frente o velho e colocar o novo. Penso que lembrar disso, ajuda a perceber as situações de modo mais concreto, com menos distorções e caminhar com mais exatidão na vida. 

 Creio que Steve Jobs não conhecesse a terapia cognitivo-comportamental, nem o modelo cognitivo de que nossos pensamentos e crenças influenciam o que sentimos, bem como nossas ações. Mas de qualquer modo, ele é um exemplo, dentre tantos outros, de que não são as situações que definem quem somos, o que fazemos, sentimos ou pensamos, mas sim o modo pelo qual escolhemos percebê-las. 

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segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Amor patológico - seu modo de amar pode se tornar uma doença; saiba quando.




"Estudo realizado nos anos 80 no New York State Psychiatric Institute constatou que o amor excessivo pode provocar no sistema nervoso central um estado de euforia parecido ao atingido pelo uso de anfetamina. Descobriu-se que o amor produziria uma substância intoxicante, a feniletilamina. Essa descoberta ajudaria a explicar o fato de que os portadores de amor patológico sentem um grande desejo por chocolate – o qual contém feniletilamina - quando estão na ausência do(a) companheiro(a)"

 Prestar atenção, preocupar-se e cuidar do(a) companheiro(a) é um comportamento saudável e esperado dentro de um relacionamento amoroso.
Quando esse comportamento passa a ocorrer de maneira repetitiva, descontrolada, de modo a priorizar o outro em detrimento de si, temos um quadro de amor patológico. Essa doença causa sofrimento tanto para o portador, quanto para quem convive com ele, uma vez que o doente torna-se obsessivo pela pessoa amada e seus comportamentos ficam fora de controle, inúmeras vezes sufocando o outro e deixando sua própria vida e interesses de lado.

Segundo o DSM - IV (sistema de diagnóstico da Associação Psiquiátrica Americana) são seis os critérios para a classificação desse transtorno, sendo três deles obrigatórios (para fechar esse diagnóstico). 

1) Sinais e sintomas de abstinência - quando o parceiro está distante (física ou emocionalmente) ou perante ameaça de abandono, podem ocorrer: insônia, taquicardia, tensão muscular, alternando períodos de letargia e intensa atividade. 

2) O ato de cuidar do parceiro ocorre em maior quantidade do que o indivíduo gostaria - o indivíduo costuma se queixar de manifestar atenção ao parceiro com maior frequência ou período mais longo do que pretendia de início. 

3)Atitudes para reduzir ou controlar o comportamento patológico são mal-sucedidas - em geral, já ocorreram tentativas frustradas de diminuir ou interromper a atenção despendida ao companheiro. 

4) É despendido muito tempo para controlar as atividades do parceiro - a maior parte da energia e do tempo do indivíduo são gastos com atitudes e pensamentos para manter o parceiro sob controle. 

5) Abandono de interesses e atividades antes valorizadas - como o indivíduo passa a viver em função dos interesses do parceiro, as atividades propiciadoras da realização pessoal e profissional são deixadas, como cuidado com filhos, atividades profissionais, convívio com colegas, entre outras. 

6)O amor patológico é mantido, apesar dos problemas pessoais e familiares - mesmo consciente dos danos advindos desse comportamento para sua qualidade de vida, persiste a queixa de não conseguir controlar tal conduta. 

  Amor patológico e dependência química 

É interessante notar que existem estudos comparando os critérios para diagnóstico de dependência química com as características que geralmente são apresentadas pelos portadores de amor patológico e, constataram que grande parte deles (seis dos critérios acima) se assemelhem entre si, conforme o DSM – IV. 

Outro ponto em comum é, do mesmo modo que o dependente químico adere à “droga de escolha” para aliviar sua angústia, ansiedade, timidez ou na busca do prazer, o portador de amor patológico acredita que alcançará isso através do “parceiro de escolha”. 

Um estudo realizado nos anos 80 no New York State Psychiatric Instituteconstatou que o amor excessivo pode provocar no sistema nervoso central um estado de euforia parecido ao atingido pelo uso de anfetamina. Descobriu-se que o amor produziria uma substância intoxicante, a feniletilamina. Essa descoberta ajudaria a explicar o fato de que os portadores de amor patológico sentem um grande desejo por chocolate – o qual contém feniletilamina - quando estão na ausência do(a) companheiro(a). 

  O amor patológico 

O responsável pelo amor patológico não é o amor em si, esse não é causador dos malefícios que ocorrem associados a esse transtorno, mas sim o grande medo que a pessoa tem de ficar só, o pavor de poder vir a ser abandonada, o receio de não ser valorizada, pensamentos esses que lhe causam muita angústia. 

É essa forte carência que faz com que a pessoa tenha um déficit na sua avaliação crítica (na verdade, ausência de crítica) sobre seu comportamento obcecado. A consequência é a falta de liberdade que o portador de amor patológico impinge a si mesmo e ao par, já que quando está na presente desse sente um bem- estar e alívio da angústia. 

  Quem sofre mais de amor patológico? 

 É provável que o amor patológico seja mais presente na população feminina porque as queixas são mais referidas pelas mulheres (no entanto, o que pode ocorrer também é que os homens não costumam compartilhar com tanta frequência seus sentimentos). As mulheres partilham mais o que sentem e dentre essas confissões, queixam-se de “que sofrem com o problema”, que são “obcecadas" ou "viciadas" pelo parceiro, ou ainda que deixam de viver a própria vida para "viver pelo outro", que o outro “é o centro de suas vidas”. Além disso, as mulheres costumam dar maior ênfase aos relacionamentos amorosos, assim como a situações relativas a eles, tais como: fazer coisas juntos, datas especiais, presentes, ciúmes, abnegação e sacrifícios pelo relacionamento, entre outros. 

Além de psicoterapia, para auxiliar as pessoas com esse quadro, existem grupos de autoajuda que trabalham com esse tema, assim como o MADA (Mulheres que Amam Demais Anônimas), o qual somente permite a participação do público feminino. 

  Avalie sua maneira de amar 

 Para ajudar na avaliação da “dosagem” de seu amor com relação a(o) seu(ua) parceiro(a), procure se questionar sobre:

 • Você costuma sentir-se satisfeito com a quantidade de atenção e tempo que dedica a(o) seu(sua) parceiro(a) ou percebe que fez mais do que gostaria ou do que ele(a) mereceria? 
 • Na ausência do(a) companheiro(a) você consegue continuar fazendo suas coisas normalmente, sem alteração física (ex. taquicardia, insônia, dores musculares, tontura, etc...) ou emocional (ex. tristeza, angústia, medo, etc...)? 
 • Você acha que a quantidade de atenção o de tempo que você disponibiliza a(o) seu(ua) parceiro(a) está sob o seu controle ou já tentou se conter e não conseguiu? 
 • Você mantém outros interesses e relacionamentos ou abandonou pessoas e atividades para privilegiar a relação com essa pessoa em especial?
 • Você não se preocupa e/ou não despende tempo buscando controlar a vida do seu parceiro?
 • Você continua se desenvolvendo pessoal e profissionalmente após o início de seu relacionamento amoroso? 

 Se você respondeu “não” à maioria das questões, é um sinal para que fique alerta. O mais indicado é que procure um psicólogo ou psiquiatra e faça uma avaliação clínica mais aprofundada para poder compreender melhor o que se passa com você e talvez receber tratamento adequado. 

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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Excesso de agressividade pode ser doença


"A agressividade impulsiva é caracterizada pelo descontrole das emoções e gera manifestações de violência. O grau de agressividade é totalmente desproporcional aos estímulos que a desencadearam"

A agressividade é inerente ao ser humano e representa uma maneira de se proteger contra ameaças externas. Quando ela é excessiva, foge ao controle, torna-se destrutiva; causa problemas nas relações pessoais, profissionais e na qualidade de vida do indivíduo, pode então ser considerada uma doença.

A agressividade impulsiva – presente nas pessoas com Transtorno Explosivo Intermitente - é caracterizada pela instabilidade afetiva (descontrole das emoções) gerando comportamentos de risco, principalmente com manifestações de violência.

O portador do Transtorno Explosivo Intermitente não consegue resistir aos seus impulsos agressivos, o que o leva a cometer graves ataques físicos a outros e destruição de objetos ou propriedades. Seu grau de agressividade é totalmente desproporcional aos estímulos que a desencadearam. Nas pessoas com esse transtorno, os atos de agressividade não são premeditados e elas sentem-se responsáveis por seus comportamentos, demonstrando após os mesmos arrependimento, vergonha, culpa e tristeza.

Os critérios diagnósticos do DSM IV para Transtorno Explosivo Intermitente são:

a. Diversos episódios distintos de fracasso em resistir a impulsos agressivos, resultando em atos agressivos ou destruição de propriedades.

b. O grau de agressividade expressa durante os episódios está nitidamente fora de proporção com quaisquer estressores psicossociais desencadeantes.

c. Os episódios agressivos não são mais bem explicados por outro transtorno mental (por ex: Transtorno da Personalidade Antissocial, Transtorno da Personalidade Borderline, Episódio Maníaco, Transtorno da Conduta ou Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade); nem se devem aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex: droga de abuso, medicamento) ou de uma condição médica geral (por ex: traumatismo craniano, doença de Alzheimer).


Como são os episódios de agressividade

Os episódios de agressividade voltam a acontecer, pois a pessoa não consegue resistir aos impulsos que a levam a adotar esse comportamento. Esse circuito ocorre do seguinte modo: há um período de tensão que precede o comportamento violento e, após o mesmo, segue-se uma sensação de alívio. Dessa maneira, o comportamento agressivo ocorre para aliviar o desconforto dessa tensão.
O surgimento dos ataques de agressividade são repentinos e podem ter uma duração média de 20 a 30 minutos. Portadores desse transtorno relatam sensações físicas de fadiga, forte tensão, formigamento, tremores, palpitações, aperto no peito, tensão nas costas, forte pressão na cabeça, pensamentos raivosos que os levam a fortes impulsos para agir agressivamente. Descrevem: “necessidade de atacar”, “necessidade de ferir”, “pico de adrenalina”, “sangue nos olhos” ou “vontade de matar alguém” e relatam alívio da tensão após o ato agressivo.

O Transtorno Explosivo Intermitente parece raro. Não existem muitos estudos ou pesquisas sobre ele para fazer essa afirmação com total confiança. Nota-se que o comportamento violento episódico é mais comum entre homens do que em mulheres. Os elevados níveis de testosterona (hormônio masculino) poderiam evidenciar o comportamento impulsivo de agressão nos homens. Nas mulheres as oscilações hormonais que precedem o ciclo menstrual, poderiam igualmente ressaltar a agressividade.

Indivíduos com esse transtorno podem ter inúmeras consequências negativas em sua vida, tais como: perda de emprego, suspensão ou expulsão escolar, divórcio, dificuldades nos relacionamentos interpessoais, acidentes (por ex. de automóvel), hospitalização (por ex. em função de ferimentos sofridos em lutas ou acidentes) ou detenções legais.

Na causa desse transtorno estão presentes fatores biológicos, psíquicos, sociais e ambientais.

As causas biológicas estão relacionadas a um problema na transmissão da serotonina e alterações nas regiões cerebrais ligadas à emoção, memória e responsáveis pelo planejamento e controle dos impulsos.

Sabe-se que pessoas portadoras do Transtorno Explosivo Intermitente pertencem a famílias instáveis, nas quais há a dependência de álcool e/ou drogas, explosões verbais e abusos físicos e/ou emocionais. Acredita-se que tenham presenciado os pais (ou um deles), irmãos mais velhos ou outros familiares agindo dessa maneira explosiva e violenta.


A razão pela qual se deve buscar tratamento para essa doença, é conseguir auxílio antes que a pessoa tenha se colocado em situações como: suspensão ou expulsão escolar, demissão, prisão ou outros problemas legais, hospitalizações, etc.

Uma vez que a pessoa engaja-se nesses comportamentos, torna-se mais difícil cessar esse “efeito dominó”. Em virtude do estrago que acontece à própria vida dos portadores, bem como às pessoas com as quais convivem, deve-se adotar tratamento médico e psicológico para reduzir a intensidade e frequência desses episódios violentos, devolvendo uma melhor qualidade de vida a esses indivíduos.


Leia esse texto também em Via Estelar.